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Crônicas
09/11/2011 - 09h01
O marinheiro só
Galeno Amorim
 

É simplesmente impossível ir a Ilhéus, no litoral da Bahia, e não se sentir, de repente, como se estivesse adentrando algum dos livros de Jorge Amado, o filho mais famoso da terra e, sem dúvida, um dos nossos maiores escritores.

O casario porta-e-janela, os barcos no cais. Em cada canto da cidade histórica tem um quê e um cheiro de Gabriela, Pedro Bala e um punhado de personagens que, bem antes do seu criador, entraram para a imortalidade pela porta da literatura.

Não muito distante dali, vizinho desse cenário impregnado de cultura e boas histórias, algumas que remontam à época das capitanias hereditárias e dos tempos em que a Bahia era o epicentro do Brasil Colônia, vive Joílson, o marinheiro. Ele, os fantasmas e uma gente bem viva, todos saídos diretamente das páginas da boa prosa de Jorge Amado e que atendem por nomes como Vadinho, Nacib ou Flor.

Assim como o conterrâneo ilustre, Joílson Maia cresceu entre fazendas de cacau e as memórias dos coronéis, um fio condutor das tramas que até hoje continuam a atrair turistas para o lugar. Foi entre um e outro, quando ainda não passava de um capiau em meio às plantações do Sul da Bahia, que ele, um menino, foi apresentado aos livros.

Como não havia dinheiro para comprá-los, ele deu um jeito: emprestava os livros dos colegas na escola. Como tinha que devolver no dia seguinte, tratava de decorar, durante a noite, em casa, o conteúdo da obra para, mais tarde, poder contar aos irmãos. Foi assim que Joílson foi tomando gosto pela coisa. Quando seu filho, também Joílson, nasceu, o marinheiro foi buscar lá no baú da infância as boas histórias que tanto mexiam com ele.

Virou um contador de histórias.

Daí a pouco já estava escrevendo as próprias histórias. Como sempre leu muito, não teve muitas dificuldades. Já passam de dez os livros de sua autoria. Alguns são romances, outros literatura infantil. Uns ganharam títulos pomposos, como “O Dia da Gota D’Água” ou “Memórias Sofridas”. Algumas dessas histórias Joílson aproveita para contar para os turistas e passageiros da balsa que, diariamente, faz a travessia entre o continente e a Ilha de Comandatuba.

Trinta e oito anos bem vividos nas costas, Joílson Maia diz que assunto e cenário é o que não falta por ali. E tampouco bons mestres. No caso dele, foi o próprio autor de Terras do Sem Fim e Gabriela Cravo e Canela quem deu a receita.

- Um dia ele me contou que sempre começava uma história tendo na cabeça uma personagem real de Ilhéus.

Joílson ficou com isso martelando na cabeça por um tempo.

- E não é que dá certo?! Está cheio de personagem de livro andando por aí...

O marinheiro levou o conselho a sério e nunca deixou de escrever. Seja lá o que for. Agora ele sonha em um dia poder participar de uma Bienal do Livro no Rio ou São Paulo e dar autógrafos.

Bom leitor e exímio contador de causos, boas histórias e imaginação é o que não lhe falta.


Nota do Editor: Galeno Amorim (www.blogdogaleno.com.br) é jornalista, escritor e presidente da Fundação Biblioteca Nacional. Criou o Plano Nacional do Livro e Leitura, no Governo Lula, e é considerado um dos maiores especialistas do tema Livro e Leitura na América Latina.

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