- Então, o que achou do desenho? - Está bonito, mas um pouco exagerado... - Eu faço isso por você e não ganho nada em troca! Foi o estopim de uma discussão que deixaria marcas. Eu tentei de tudo para amenizar a situação, mas nada resolvia a questão dos desenhos. Enfim, acabei fazendo a única coisa que sei: criar um conto fantástico. Entreguei-lhe o texto numa sexta-feira ensolarada. Esperava elogios e exaltações, porém o que recebi foram críticas negativas. Ele dizia que estava complexo, subjetivo e surrealista, por isso era um presente medíocre. Queria que eu me desdobrasse para aprender o esboço de um Abaporu, de Tarsila do Amaral. Era demais para mim. Mesmo com essas críticas, persegui com a escrita de textos. Conseguia pintar o mundo do jeito que eu queria: triste e alegre; feio e exageradamente bonito; simples e detalhado. Quando tinha caneta e papel em mãos, revelava o mundo através da minha escrita. Ele, para mim, aparecia especial e particular. Pena que o garoto não me entendia... ele exigia de mim uma declaração de amor que eu não sabia dar: queria que eu não fosse a mesma e que encarasse a vida sob a perspectiva dele. Puro egoísmo. Perdi o namorado, mas ganhei o mundo! Depois disso, a inspiração brotava em mim. Eu não sabia desenhar com as linhas, porém sabia com as palavras.
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