O ministro Fernando Pimentel, denunciado por ter mantido ligações perigosas e negócios duvidosos no interregno entre sua saída da prefeitura de Belo Horizonte e a posse no ministério, viajou para a Suíça, em missão oficial. Fontes palacianas apressaram-se em noticiar que ele se explicou à presidenta e ela teria se convencido de sua inocência, o aconselhado a “resistir” e, ainda, dado ordens para os aliados abortarem a convocação do auxiliar para explicar-se no Congresso Nacional. Mas, apesar da normalidade que se pretende dar ao quadro, ainda falta desfazer as interrogações contidas na cabeça do povo. O eleitor, único e verdadeiro patrão da classe política e dos ocupantes de postos no governo, tem o direito de ser informado e o governo o dever de informá-lo, com todos os detalhes, quais os serviços de consultoria prestados pelo ministro no período em questionamento, as pessoas ou corporações que o contrataram e, principalmente, se o preço cobrado é equivalente ao de mercado. Também explicar o objetivo dos contratos e no quê foram empregados esses trabalhos. Se realmente convenceu a presidenta Dilma - que chegou a aparecer na TV dizendo serem assuntos pessoais e anteriores à posse - Pimentel deve ter dado esclarecimentos inquestionáveis. Logo, não custará nada fazer o mesmo em relação à sociedade brasileira. Essa providência o livraria da inconveniente suspeita de ter operado um canal de lavagem de dinheiro e de seus clientes serem apenas empresas de fachada constituídas para esse fim. Como cidadão, seus atos devem ser explicados ao Poder Judiciário, mas em “estando ministro”, também deve explicações à sociedade, a quem deve provar não ser um “ficha suja”. Quando um ministro ou outro membro dos altos escalões é denunciado, arranha a imagem de todo o governo. Daí a expectativa da mais severa e transparente apuração dos fatos. Não basta a notícia de que a chefe do governo está convencida que não há nada de errado com seu auxiliar. Tudo o que se espera para o momento é que as razões do seu convencimento sejam trazidas ao povo e suficientemente fortes para também convencê-lo. O que não pode e nem deve é o governo, que manipula somas astronômicas e decide os rumos do país, ter em seus quadros elementos suspeitos de práticas irregulares. Até que tudo esteja devidamente esclarecido, o ministro deveria estar afastado ou pelo menos “em férias”, para e evitar o comprometimento da máquina. Além da saída imediata dos suspeitos, é indispensável que toda denúncia seja apurada até o fim. Mesmo depois da saída do envolvido, interessa saber o que realmente aconteceu e - mais que isso - tomar todas as providências legalmente previstas. Se ele tiver culpa ou dolo, que seja processado e julgado e se for inocente, que seus denunciadores sejam exemplarmente punidos. Esse comportamento é o único meio de garantir ao governo a credibilidade popular. Todos nós, brasileiros, ainda continuamos querendo saber como terminou o caso de cada um dos cinco ministros demitidos por irregularidades... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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