Voltou ao vício do café. Tinha prometido para si mesma controlar-se mas não resistiu muito tempo. Tomou mais um gole e com a mão direita alisando a franja pensava em uma forma de iniciar aquela carta. Riu sozinha quando lembrou de Ataíde, com quem tinha conversado aquela tarde: - Carta não, Beatriz! Que coisa arcaica... não pretende mesmo, não é? Que tal um e-mail? - Perguntou com uma cara de indignação um tanto cômica que só ela tem. - Uma carta, sim. Tão antiga quanto esse sentimento... - seus dedos, dessa vez, agora permeavam todo o cabelo. Era um outro vício. Talvez o desembarace dos fios lhe trouxessem alguma ideia. Então deixou pingar um toque da sua emoção no papel: Há anos não o vejo mas parece mesmo que foi ontem. Você ainda lembra de mim? Não digo necessariamente da minha aparência, mas recorda, ao menos do que eu parecia ser pra você? Nunca ninguém conseguiu fazer eu me sentir tão especial. Sua imagem está meio embaçada, mas, posso dizer com certeza que nenhum rosto é igual ao seu. Encontrei um até parecido, mas não igual. E o que de melhor imaginei a seu respeito ficou guardado dentro de mim. Sem dramas, sem choros. Uma lembrança linda, isso é tudo.
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