A fidelidade partidária, em vigor desde 2007 e confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, ainda é uma obra de ficção. Políticos clientelistas, oportunistas e sem qualquer compromisso, ignoram a legislação e transformam a filiação num verdadeiro cassino, onde impera a regra do “quem dá mais”. E o povo, sem entender nada, apenas ignora a classe ou, no máximo, nutre por ela uma falta de apreço cada dia maior. É uma situação que, para o bem do país e de todos nós, não pode persistir. O Brasil não pode ir para a frente sem ter em seus quadros políticos respeitados e uma estrutura de representação confiável. Sem esses requisitos, as instituições e siglas ficam à mercê daqueles que as negociam conforme os próprios interesses e, muitas vezes, deságuam nos escândalos que ultimamente a imprensa tem noticiado. Apesar de desfrutarmos da democracia plena, ainda faltam-nos partidos fortes para sustentá-la. As siglas não podem continuar existindo como réles cartórios de homologação de candidaturas e loteamento de cargos governamentais. Seu funcionamento tem de ser permanente e voltado ao conteúdo programático que, salvo melhor juízo, representa o DNA da instituição. Há de se chegar ao dia em que, por respeito ao eleitor e vergonha na cara, o político brasileiro de uma orientação programática ou ideológica jamais se mudará para sigla oposta. Nesse tempo, cada um continuará no seu quadrado e, quando não concordar com o ritmo dos acontecimentos, lutará por suas idéias dentro do próprio partido. Só mudará se concluir que, realmente está numa agremiação que não represente seus ideais, mas o fará às claras e assumindo os riscos da ruptura. Dessa forma, ganhará a sociedade e ganharão os próprios políticos que, abandonando a frivolidade política, passarão a ter atuação mais coerente e, consequentemente, readquirirão o respeito do eleitor. Para isso acontecer, os próprios dirigentes partidários têm de adquirir nova postura, e a Justiça resolver os seus gargalos para fazer com que a infidelidade seja punida como manda a lei, sem ter de esperar meses e até anos por uma decisão. Na certeza de perder o mandato, o possível infiel pensará muito antes de fazer as composições espúrias e oportunistas que se vê antes dos anos eleitorais. Quem entra numa eleição deve estar preparado para um dos dois resultados possíveis: ganhar ou perder. Quem ganha tem a tarefa de governar e quem perde, até por respeito aos votos recebidos, fica com o dever de fiscalizar. Se o fizer de forma convincente, poderá até vir a ganhar na próxima eleição. O que não se pode admitir é a promiscuidade, que destrói a estrutura partidária, enfraquece os políticos sérios e desorienta o eleitor. Não precisamos de tantos partidos para a divisão do bolo e nem o bolo precisa ser dividido. Carecemos de partidos verdadeiros em que o povo possa confiar. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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