Brigar para depois se justificar através de contextualizações. Não, não me parece que é isso o que quero. Mas é preciso, creio que seja mesmo preciso.

Li pouco hoje, e escrevi uma crônica faz dez minutos, mas a perdi. Li algo sobre o bóson de Higgs, sobre a vicentina que ganhou na Nota Fiscal, sobre a recusa do Brasil em assinar o tratado anti-corrupção, sobre a proibição do fumo e suas compensações.

Não li mais nada até agora. Passa das oito da noite. Olho para alguns prédios defronte daqui e algumas luzes ainda estão acesas, há gente trabalhando, esforçando-se para a sobrevivência. Ninguém tocou a campainha ou bateu à porta, mas há alguma esperança de que isso aconteça, e se acontecer, que seja de preferência o Papai Noel trazendo um presente bem especial. O que quero de Natal? Inteligência. Sim, era isso o que queria, que alguém entrasse por aquela porta e fizesse meu QI triplicar. E o tornando altíssimo, fizesse com que eu pudesse resolver os problemas de muita gente, até mesmo ler a mente delas. Mas sinto que nunca será assim. E se fosse para escolher um presente material?, talvez indagassem. De material... hum, acho que de material eu gostaria de ganhar de Papai Noel uma viagem a Paris. Que obsessão por essa Paris, diriam. Mas só mesmo pra conhecer, é claro; conhecer aquelas ruas, aquelas pessoas... Não sei... acho que se porventura realizar esse desejo de ir para a Europa será com mais idade.

Acho que o machismo gosta de ser uma ameaça, o machismo é uma espécie de entidade. E acho que se eu me sentisse muito viril, mormente fisicamente, seria bem mais machista do que sou. O macho tem uma forma muito especial de pensar. É difícil ele admitir que errou, e não imagino as reações do macho quando lhe dizem que ele errou. Será violenta? Acho que não, mas também isso é muito raro de acontecer.

O que sou no momento é burro. Sim, porque o paulistano não, o paulistano nunca é o idiota, os paulistanos se protegem uns aos outros. Fico à margem, e também um pouco na berlinda, mormente nos lugares onde tento labutar. E se nada acontece mais em minha vida, porque os amigos se foram, aí é que parece que as coisas podem piorar e eu ficar mais vulnerável, com cara de quem necessita de envolvimentos, cara de quem necessita ser objeto de pesquisa e apreensão. Ou cara de nada, de nata, de nata suja.

Agora estou na preguiça. A síntese de todos os chefes que tive reaparece com força atômica. Melhor tomar cuidado, melhor nem sei mais o quê. As possibilidades estão mortas. Mas não totalmente. Elas são apenas zumbis como eu, mortas-vivas.

"Procuro de verdade na escuridão... um amor puro, um amor casto, um amor de alma para a alma". Eu cantava isso na juventude. Eu era compositor e jamais fui reconhecido por isso. Imagine. Mas sempre estudei um pouco música. Sempre. Depois me esqueci dela. Mas acho-a algo bonito, inspirador.

As pessoas estranhas ou desconhecidas se aproximam de mim como padres, querem que eu me confesse com elas. Será que preciso me confessar com estranhos? Depende, é claro, depende do estranho. Quando eu me achava sensitivo, e acredito que era mesmo um pouco, pessoas desapareciam na minha frente. Como era ingênuo, talvez mais até do que hoje. As pessoas não desapareciam na minha frente, elas fugiam de mim...

Sou sempre o mimado, e imagino que as pessoas o qual o populacho desconhecido não considere mimadas sejam pessoas bem-sucedidas naquilo que fazem. Os bons, os otimistas, parecem nunca admitirem que estão em uma situação porque não há outra, porque não se teve opção.

Nossa, está começando a chover. A água entra pela janela. Preciso parar de escrever. Ninguém merece, não é? Ou merece?