A intervenção do governo japonês no mercado de câmbio marca mais uma tentativa de um país proteger a sua produção de manufaturados e evitar que as empresas desloquem sua produção para o exterior. O Iene japonês tem atingido um pico pós-guerra contra o Dólar e o governo decidiu intervir via uma venda de aproximadamente 3.000 bilhões de Ienes ou 37,9 bilhões de Dólares. Essa foi a segunda intervenção cambial do Japão. A primeira foi em agosto de 2011. Outro caso de intervenção cambial tem sido o da Suíça que decidiu estabelecer um piso mínimo de 1,20 Francos suíços contra o Euro para proteger a sua indústria doméstica. A China, que mantêm sua moeda atrelada ao Dólar americano já faz anos, tem conseguido manter uma conta corrente superavitária consistentemente. Quando o banco central da Suíça, o SNB, interveio fortemente no mercado de câmbio, a reação da imprensa, por exemplo, a reação do influente jornal The Financial Times, foi muito positiva. O próprio banco central suíço fez uma pesquisa perguntando às empresas como o câmbio estaria afetando as suas vendas. As respostas, evidentemente, foram que elas estariam sendo prejudicadas pela forte valorização do câmbio. O que se percebe é que a intervenção cambial para proteger a indústria doméstica é algo necessário e também justificável. Agora, se fosse o Brasil... Em um mundo onde a desvalorização de uma moeda implica a valorização de outra moeda, quem está perdendo até agora é o Brasil. Desde 2007, a taxa de câmbio R$ / US$ tem se valorizado crescentemente. Os dados mais recentes, de 3 de novembro de 2011, mostram que a taxa de câmbio está valorizada em 28% desde 2007 (supondo que Janeiro de 2007 = 100, a última data indica um índice de 128). A forte valorização do Real traz sérias conseqüências para o Brasil: a produção nacional de manufaturados sofre com a perda de competitividade; há perda de emprego e o Brasil acaba enviando mais divisas para o exterior via aumento de importações, o que prejudica nossa balança comercial. Outra conseqüência é que o Brasil é pressionado cada vez mais a se especializar em exportações de commodities, o que resulta na exportação de produtos de baixo valor agregado e importação de produtos de alto valor agregado. A importação de produtos de alto conteúdo tecnológico como carros, produtos eletrônicos, máquinas e equipamentos, que estamos produzindo no Brasil, prejudica as cadeias produtivas. O Brasil exportará dentro de poucos anos petróleo do pré-sal pressionando ainda mais a valorização do Real. Que estratégia teremos então? Não adianta tapar o sol com a peneira, temos que tomar providências antes que seja tarde demais. Temos instrumentos que ainda não foram utilizados, como por exemplo, o Fundo Soberano do Brasil que poderia comprar Dólares americanos ou Euros e adquirir ativos no exterior. Desta forma, poderíamos conquistar posições mundiais mais fortes. A função do Fundo Soberano, é prover recursos para o Brasil num momento de turbulência econômica. O momento é este. A manutenção do valor artificial da moeda chinesa, a intervenção da Suíça e agora a do Japão, são fatores que afetam negativamente a indústria brasileira. Denunciar as intervenções do Japão ou da Suíça na Organização Mundial de Comércio (OMC), é teoricamente algo justificável, mas na prática é algo que não daria certo: a política monetária de cada país faz parte de sua soberania. Nesse cenário de competição, o Brasil deveria adotar uma “meta de câmbio”. Com meta de câmbio entende-se a definição de uma taxa de câmbio que protege a competitividade da indústria doméstica. A taxa de câmbio do Real com relação ao Dólar americano deveria situar-se em torno de R$ 2,00. Entretanto, a meta de câmbio precisa ser coerente com uma meta de inflação. É necessário manter a estabilidade de preços e a competitividade da indústria. O fator chave aqui é o controle dos gastos públicos: a redução dos gastos públicos possibilitará a redução da taxa de juros o que levará a uma moeda mais barata. A queda nos gastos públicos terá um efeito negativo sobre a demanda agregada, diminuindo assim a pressão nos preços. Isso poderá ser compensado por juros mais baixos. Uma meta de câmbio implica num atrelamento do Real ao Dólar americano. É provável que sejamos acusados de manipuladores da taxa de câmbio? Sim. Mas que alternativas temos? A rodada de Doha se não morreu, falta pouco. Os EUA e a União Europeia dificilmente vão cortar seus subsídios agrícolas. A China está tentando reestruturar a sua economia, sendo que isso está acontecendo de maneira bastante devagar. A Argentina, um importante parceiro comercial, exige que cada importação de produtos seja coberta por uma exportação correspondente. Em uma boa parte de países podemos enxergar medidas protecionistas. Porque o Brasil deveria abrir mão de seus mercados para a competição externa sem nenhum retorno? Deixar que os fundamentos econômicos definam a taxa de câmbio R$ / US$ é igual a abrir mão da indústria brasileira e se condenar a ser país de commodities. Não devemos deixar para depois, precisamos tomar esta decisão de colocarmos uma meta para o câmbio, ante uma situação internacional deteriorada onde países como o Japão, EUA, UE e China já não deixam dúvidas sobre sua posição na guerra cambial. Nota do Editor: Ingo Plöger é presidente do Conselho Empresarial da América Latina (CEAL) e Carlos Waack economista da consultoria IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional.
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