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Crônicas
16/01/2012 - 14h00
Aprender é abrir os olhos
Galeno Amorim
 

Dona Lydia sempre gostou das palavras. Sobretudo, da sonoridade delas. E, talvez, por trazerem elas, embutidas em si, algum significado, algum sentido novo para as coisas de sempre.

Contudo, ela passou a vida inteira apartada delas. Distante ao menos de sua forma grafada, impressa, aquela que se materializa em sinais que uns e outros chamam de letras - das quais as palavras se nutrem e se constituem, ganhando vida própria.

Dona Lydia, embora não soubesse ler e escrever, é poeta desde que se conhece por gente. Morando na beira da praia, ela buscava inspiração no mar. Ali talhava palavras. Esculpia um verso daqui, outro acolá. Levava a vida assim.

Mas, como Deus costuma escrever certo por linhas tortas, um dia ela sentiu, na pele, o quanto a falta de intimidade com a palavra escrita faz falta na vida de pessoas simples como ela. Mais: o quanto a leitura era simplesmente essencial para ela e seus vizinhos caiçaras.

Acontece que ela precisou, já entrando na velhice, regularizar umas terras que o avô deixara de herança. Era o único bem na vida, onde ela nasceu, viveu e tira o sustento da família, entre Peruíbe e Itanhaém, no litoral Sul de São Paulo.

Buscou a ajuda de um advogado. Só que o sujeito, aproveitando do fato de que ela não sabia ler, acabou surrupiando metade da pequena lavoura, onde ela cultivava milho, batata e melancia.

Resoluta, Dona Lydia tomou a decisão: foi para a escola!

Estava tão decidida a aprender a manejar com as letras e as palavras que logo se alfabetizou. Nunca mais seria enganada por algum doutor inescrupuloso por não saber ler. Na sala de aula, descobriu os livros. Tomou gosto pela coisa!

A vida dela nunca mais foi a mesma.

Dez anos depois, Dona Lydia S. Gonçalves - é assim que ela assina na capa dos dois livros que, desde então, publicou, com seus poemas e aforismos - foi além do diploma do curso de alfabetização de adultos, que ostenta orgulhosa. Entrou também na faculdade.

Hoje em dia diz que nunca mais vai deixar de ler e de aprender. Admiradora de Drummond e Castro Alves, é ela quem, do alto de seus 75 anos, dá a lição:

- Aprender é abrir os olhos...


Nota do Editor: Galeno Amorim (www.blogdogaleno.com.br) é jornalista, escritor e presidente da Fundação Biblioteca Nacional. Criou o Plano Nacional do Livro e Leitura, no Governo Lula, e é considerado um dos maiores especialistas do tema Livro e Leitura na América Latina.

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