Acabaram as sacolas plásticas nos supermercados paulistas. E daí? Segundo os implementadores da medida – governo do Estado e associação dos supermercados – essa providência deverá evitar o uso de 9 mil toneladas de plástico por mês só em São Paulo. O país consome 210 mil toneladas/ano do material, para produzir 18 milhões de sacolas que, depois de usadas, representam 9,7% do lixo gerado no país. Esse argumento, no entanto, não convence os produtores de plástico que, em vez da restrição, defendem a realização de campanhas pelo uso responsável das sacolas, evitando-se o seu descarte à rua, à rede de galerias e a outros locais onde venham causar problemas. Mais do que qualquer resultado ecológico, a medida serve para baixar custo aos supermercados, que deixam de fornecer a sacola, e passa a onerar o consumidor, obrigado a utilizar caixas de papelão, adquirir a sacola biodegradável ou a voltar a usar as velhas sacolas retornáveis ou ainda cestas ou carrinhos de feira. Alternativas que geram custo e desconforto. O banimento da sacola de polietileno dos supermercados não garante que isso também ocorra no restante do comércio. Lojas, shoppings e até os milhares de bares e mercearias continuarão nela acondicionando suas vendas. Além disso, nos próprios supermercados, a embalagem original da maioria dos produtos é de material plástico e os setores de açougue e horti-fruti continuam usando saquinhos plásticos e isopor para acondicionamento e proteção das mercadorias. Também não deixarão de existir os sacos de lixo exigidos pelas autoridades sanitárias para evitar a contaminação e facilitar o trabalho de coleta. Mas, evidentemente, o consumidor não conta mais com a antes gratuita sacolinha do supermercado para esse fim. Surgido há 150 anos e aplicado comercialmente desde os anos 30 do século passado, o plástico é uma realidade de que a sociedade moderna não pode abrir mão. Está presente numa imensa cadeia de coisas, desde a simples embalagem até sofisticadas e resistentes peças e engrenagens de máquinas de alta precisão. Na indústria automotiva até o radiador, de água quente, hoje é de plástico. Em sua trajetória, o produto resolveu muitos problemas e gerou uma imensa cadeia de derivados. Mas o manejo inadequado trouxe problemas que hoje enchem os olhos – e os bolsos – de ecologistas, demagogos e interesseiros. A mesma sociedade que baniu a sacolinha pouco ou nada faz para controlar o papelório distribuído nas ruas, que vai para as galerias pluviais, e nem atua contra o descarte irresponsável de garrafas “pet”, pneus velhos, móveis usados, sucatas de veículos, materiais de construção e outros produtos benéficos que, mal utilizados e descartados, fazem a desgraça ambiental. A sacola é a bola da vez, mas os problemas, continuam... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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