Há pouco mais de dois anos, em janeiro de 2010, São Luiz do Paraitinga, cidade histórica localizada a 170 quilômetros da capital do Estado de São Paulo, sofreu uma trágica enchente. Em poucas horas, o município sofreu prejuízos econômicos, sociais, ambientais e de infraestrutura, além de ter parte de seu patrimônio arquitetônico e urbanístico destruído. Antes da tragédia, a Unesp vinha realizando significativos trabalhos de pesquisa, extensão e ensino no município. Ações como levantamento e tratamento de informações para o desenvolvimento sustentável, planejamento estratégico e promoção do empreendedorismo já eram desenvolvidas. Em dezembro de 2009, foi aprovado o Plano Diretor Participativo da cidade. Elaborado sob coordenação da Universidade e sancionado pela prefeitura durante a crise, deu condições para que órgãos dos governos estadual e federal tomassem atitudes seguras e ordenadas para enfrentar a emergência. Logo após a enchente, foi criado um Grupo Gestor das Atividades voltado à reconstrução e desenvolvimento do município. Concentradas no Programa Unesp para o Desenvolvimento Sustentável de São Luiz do Paraitinga, essas atividades envolveram alunos e professores que interagiram com a comunidade, gerando aprendizado para a universidade. O projeto resultou na prática de técnicas aplicadas ao desenvolvimento sustentável e na discussão da gestão participativa, memória e visão de futuro. Entre as iniciativas, estão, por exemplo, oficinas de empreendedorismo na área de alimentos artesanais. O objetivo é encorajar as pessoas a se tornarem pequenos empresários, o que possibilitaria a venda de sua produção no mercado, o aumento de renda e um maior desenvolvimento econômico da região. Alunos da Unesp também apresentaram projetos para a implantação do Centro de Visitações do Parque Ecológico Serra do Mar - Núcleo Santa Virgínia. As propostas visam a construção de uma estrutura com menor impacto ambiental e integrada à Mata Atlântica preservada do local. O trabalho foi inédito nas áreas de reserva ambiental paulistas devido à integração entre a Universidade e os funcionários do parque para fazer um projeto que beneficie a economia da região, a estrutura para a atividade de educação ambiental e, ainda, o conforto dos visitantes. O centro se associa às técnicas de construção ligadas à tradição popular, como a taipa, que usa barro e madeira, com tecnologias de geração de energia ’limpa’, entre elas, as células fotovoltaicas que produzem eletricidade por meio da luz solar. Estão previstos ainda corredores suspensos para que a passagem dos visitantes não agrida o solo e a vegetação, além de tratamento de esgoto e integração da edificação com a floresta. Estudantes dos cursos de Administração, Direito, Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Matemática, Arquitetura e Urbanismo, Jornalismo e Turismo assistiram a palestras e fizeram atividades para conhecer a região, como passeios abertos ao público, rafting pelo rio Paraibuna e trilhas ecológicas, para conhecer e ver possíveis problemas. Também foram feitos estudos sobre o tradicional carnaval local, desenvolvendo pesquisas para que ele se torne sustentável para a cidade e ações para orientar os moradores locais, que perderam as suas memórias pessoais, como fotografias de família, e jurídicas, como certidões e outros documentos. A ação em São Luiz do Paraitinga resultou num livro (Gestão em momentos de crise: Programa Unesp para o Desenvolvimento Sustentável de São Luiz do Paraitinga, organizado por José Luís Bizelli e José Xaides de Sampaio Alves; Unesp e Cultura Acadêmica Editora; 2011) que narra a história de ações de uma universidade pública em sua jornada para pensar, compreender e atuar em comunidades que, como a cidade paulista, sofrem com catástrofes ambientais, sociais, econômicas e gerenciais, mas que acreditam na construção de uma sociedade participativa e sustentável. Nota do Editor: Julio Cezar Durigan, vice-reitor no exercício da reitoria da Unesp, é engenheiro agrônomo, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Câmpus de Jaboticabal.
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