A ambulância acidentou-se, o paciente que nela era atendido morreu e quatro socorristas saíram feridos. A cena foi presenciada na noite de terça-feira (28/02), na avenida Vereador José Diniz, Zona Sul de São Paulo. Mas é apenas mais uma ocorrência envolvendo ambulâncias, veículos destinados a salvar vidas que, infelizmente, não desfrutam do devido respeito no trânsito e são mau utilizados Brasil afora. Muitos deles circulam, desnecessariamente, em alta velocidade, aumentando o risco de acidentes e agravando o estado de saúde do paciente em transporte, exposto a solavancos, freadas bruscas e arrancadas. Uma simples verificação no noticiário nos dá a dimensão do problema que é de trânsito, administrativo e até de organização. Desde que surgiram, as equipadas e eficientes ambulâncias do SAMU tornaram-se o problema dos prefeitos. Muitos municípios firmaram convênio com os órgãos federais e as receberam, mas alegam não ter recursos para sua manutenção. Resultado: os veículos estão parados e se deteriorando ao mesmo tempo em que pacientes perecem por falta de transporte. Há décadas existe uma profunda distorção no processo de aquisição e utilização de ambulâncias para o serviço público. Os mais afeitos à política hão de lembrar de quando o governador de São Paulo, em busca de apoio nacional para sua candidatura a presidente, distribuiu centenas de ambulâncias pagas com o dinheiro paulista para municípios de outros estados. Os próprios prefeitos paulistas, durante muitos anos, receberam ambulâncias como moeda de troca política. Tanto que inúmeros deles adotaram a prática de trocar os vidros opacos por normais e transformá-las em veículo oficial para o próprio transporte. Há, inclusive, o caso de um que foi flagrado usando a ambulância no transporte de porcos do seu sítio, na margem do rio Tietê. Naquele tempo, no entanto, já haviam os mais conscientes, que rejeitavam a ambulância por não ter o que dela fazer em termos de saúde. Um deles dizia a quem quisesse ouvir que ambulância na prefeitura “é igual a ter de sustentar uma namorada viúva com 11 filhos”. Muito caro e cheio de problemas. No entanto, na impossibilidade de oferecer atendimento médico-hospitalar à população, os prefeitos dos pequenos e médios municípios adotaram por prática comum transportá-los aos hospitais e ambulatórios regionais. Daí o grande número de ambulâncias que se encontra circulando pelas estradas, muitas delas envolvendo-se em acidentes e provocando mortes. Nem sempre seus operadores são os mais adequados. Meses atrás, na região de Marília (SP), um deles perdeu o paciente, que caiu na estrada com maca e tudo e teve sua ausência percebida só na chegada ao município de destino. A chegada do SAMU e seu quadro de obrigações, que os prefeitos dizem não poderem cumprir, pode representar o fim do uso irresponsável e politiqueiro das ambulâncias. É preciso muito planejamento, regulamento e ação para que os velhos vícios sejam superados e, finalmente, a ambulância se converta num efetivo e eficiente instrumento de preservação da vida de todos nós. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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