Os acidentes com bicicletas voltaram à ordem do dia. Ocorrem manifestação - as “bicicletadas” - em busca do respeito ao ciclista, e o tema repercute em diversos pontos do país, onde os condutores das “magrelas” frequentemente são vítimas na disputa de espaço com automóveis, ônibus e caminhões. Mas, mesmo com o grande número de ocorrências, setores da comunidade e até autoridades insistem em fazer a bicicleta voltar a ser um meio de transporte nas metrópoles. Ignoram que a preferência de décadas pelo veículo motorizado engoliu os espaços antigamente ocupados pelas bicicletas nas ruas e avenidas. O aumento da frota torna esses espaços insuficientes até para o próprio carro. Os defensores da “bike” como meio de transporte argumentam que o veículo de propulsão humana é largamente utilizado na Europa, Japão e em outras partes do mundo. Mas se esquecem que nesses lugares há a tradição de se andar de bicicleta, nunca rompida como aqui, e o seu uso como meio de transporte é opção, não modismo. Também não se atentam para o rigor lá existente no trânsito, onde qualquer dos entes que comete infrações recebe pesadas multas e, dependendo da gravidade, por até ir para a cadeia. Ainda poderiam levar em consideração questões topográficas e de distância entre origem e destino. Andar de bicicleta pode ser saudável, econômico e até divertido, mas fazê-lo com segurança, depende de uma série de variáveis infelizmente ausentes no trânsito de nossas grandes e médias cidades. Numa sociedade como a brasileira, onde além de meio de transporte o automóvel é considerado símbolo de status e poder, as ruas e avenidas foram preparadas exclusivamente para o veículo automotor. As bicicletas foram relegadas às condições de brinquedo de criança, transporte de trabalhador muito pobre e periférico, ou de equipamento esportivo. Seu uso pela grande massa não é uma das prioridades brasileiras, apesar do esforço dos aficionados e até da demagogia de governantes que implantam ciclovias inviáveis e perigosas. No entanto, o grande fator de risco ao uso de bicicletas em nossas vias públicas não está no trânsito, mas na educação, tanto dos motoristas quanto dos próprios ciclistas. A má formação e a impunidade levam muitos dos condutores de automóveis, ônibus e caminhões a comportarem-se competitivamente no trânsito, agindo como verdadeiras bestas-feras. Mas muitos ciclistas, suas vítimas potenciais, não têm cabeça melhor. Fazem questão de trafegar na contramão, sobre calçadas de uso exclusivo de pedestres e cometem uma série de transgressões, na certeza de que não serão punidos. Na maioria das cidades brasileiras não há nem como multar um ciclista, pois não existe registro do veículo e nem do condutor. Ambos são informais. Diante de tantos problemas, seria mais fácil os defensores da bicicleta, em vez de tentar impor o seu uso no caótico trânsito das cidades, exigirem das autoridades a implantação de meios eficientes e seguros de transporte público. O veículo de duas rodas, só para o lazer ou até o transporte em áreas menos críticas... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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