Dona Ju tem 50 anos e trabalha como auxiliar de limpeza. Não gostava muito de estudar e ainda menina sumiu da escola e nunca mais voltou. Um dia, no entanto, um livro entrou em sua vida. Era um clássico - A Moreninha, de Joaquim Manuel Macedo - e o que viu lá dentro, onde estava o livro, a tocou tão profundamente que ela nunca mais conseguiu, pela vida afora, se afastar deles: não sabia, mas tinha se apaixonando perdidamente pelos livros. Chegou a ser proibida de entrar no banheiro com livros – acabava atrasando o serviço da casa. Como já trabalhou em lugar onde não podia acender luzes à noite, lia à luz de velas, hábito que deixaria sequelas na sua visão para o resto da vida. Ao contrário das amigas, Ju não troca de jeito nenhum um bom livro por uma novela - aliás, ela já chegou a inventar que estava acamada e deu o cano numa festa de aniversário só para não interromper uma leitura daquelas de tirar o fôlego. E até bronca de chefe ela já levou por causa dessa mania de ler. Mas desistir de ler, isso nunca! Dona Ju, que mora em Ribeirão Preto, não costuma ir a livrarias ou a bibliotecas. Estas ela já frequentou por anos a fio. Para ler, faz exatamente igual aos 45% dos brasileiros que gostam de livros: pega emprestado de pessoas próximas. O último deles foi Resgate na Cidade das Sombras, que ela devorou, em poucas horas, na velha cadeira que colocou no fundo do quintal de casa justamente para isso. Algumas obras ela passa direto pra mãe que, aos 81 anos, é leitora voraz como ela. O bom vocabulário, a bagagem cultural e tudo o mais que dona Ju sabe hoje em dia, ela diz que deve aos livros. - São eles que me abrem os horizontes - ela diz, convicta. Nota do Editor: Galeno Amorim (www.blogdogaleno.com.br) é jornalista, escritor e presidente da Fundação Biblioteca Nacional. Criou o Plano Nacional do Livro e Leitura, no Governo Lula, e é considerado um dos maiores especialistas do tema Livro e Leitura na América Latina.
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