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SEÇÃO
Crônicas
13/03/2012 - 09h05
A página em branco
Stéphanie Garcia Pires
 

Um pânico comum para quem escreve é a folha em branco. Encostar a ponta da caneta no papel e não ver surgir as palavras. Abrir um documento no computador e não enxergar nada além do seu próprio reflexo, pouco nítido, na tela. É um vazio que intimida. Principalmente porque não basta escrever qualquer coisa. Você sabe que só vale a pena dar início a um texto se ele for capaz de se sustentar por dois, três, cinco parágrafos, adquirir a extensão necessária.

Então, seus dedos batucam levemente sobre o teclado, mas digitando nada. Como se fosse um ensaio para o que estar por vir. Se é que virá de fato. Passam-se alguns minutos, você olha para a janela, para o chão, surfa sem destino pela internet, alonga a coluna, levanta e vai para a cozinha, abre a geladeira e fecha, sai de mãos vazias. Fuxica as memórias no cérebro tentando achar uma inspiração, lembrar uma história, um pensamento, uma piada que talvez, quem sabe, ajude o texto a nascer.

Nada.

A página em branco passa a se converter em um buraco negro, sugando todas as suas ideias antes mesmo que você tenha a chance de identificá-las. Aí, você sente um peso nos ombros, como se a dificuldade de escrever fizesse crescer exponencialmente a expectativa de concluir com sucesso sua missão. Fica antecipada a obrigação de chegar ao fim ainda que você sequer tenha dado o primeiro passo – ou, neste caso, o primeiro rabisco na folha de papel.

Quando se alcança este estágio do pânico, a página em branco é como olhar para o seu futuro quando se está diante de uma grande decisão. É tão incerto e assustador, com promessas de desfechos incríveis que podem mudar sua vida para o bem ou para o mal, que te congela um pouco. A responsabilidade é tamanha, há tanto em jogo que, antes de começar a jornada, você pensa que é melhor se prevenir, pensar de uma vez em todos os desfechos possíveis, os imprevistos, as dificuldades, as soluções, montar uma lista de estratégias que te conduzam ao êxito não importa o que está por vir.

Mas é impossível. A vastidão do futuro, da página vazia, engloba muito mais do que dá para imaginar. Ao perceber isso, seu pânico aumenta, você fica pequeno, engolido pela indefinição. Então, você desliga o computador, amassa a folha, desiste antes de começar. Ou você respira, se acalma e conclui que a melhor forma de desvendar o que está na esquina, descobrir o que surgirá no fim do seu texto, é ir... passo a passo, palavra por palavra, uma coisa de cada vez.

Ir com o instinto. Ainda que isso te obrigue a deletar algumas linhas, editar seu próprio trabalho, às vezes, até, começar de novo. Uma hora o seu cérebro supera o pânico, seus dedos se aceleram sobre o teclado para transbordar seus pensamentos e você cria um contexto, um ambiente no qual tudo se encaixa perfeitamente – ou com uma e outra falha mesmo, não tem problema. Você começa a ir sem ter tanto medo da conclusão. E percebe que quase nunca o ponto final é mais importante do que o processo de escrever, viver, converter gradativamente futuro em presente.

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