Noticiou-se, dias atrás, que aliados insatisfeitos com medidas adotadas pela presidente Dilma Rousseff devem pedir a ajuda de Lula. Se verdadeira, essa movimentação é, no mínimo, desumana. Apesar de todos os boletins e pronunciamentos médicos sobre seu bom estado de saúde após o tratamento do mal que acometeu sua laringe, há que se considerar os efeitos colaterais ainda presentes. Pedir o seu envolvimento em problemas pode ser comparado a um verdadeiro massacre, que precisa ser prontamente rejeitado pela família e por todos aqueles que realmente têm respeito ou ao menos um pouco de consideração ao seu líder. Sobrevivente de muitas agruras, que começaram com a fome, a migração, os problemas familiares, o preconceito e toda a repressão decorrente de sua atuação sindical e política, Lula transformou-se num dos mais importantes personagens da história moderna do Brasil e do próprio mundo. Fundou e deu lastro a um partido sem antes ter tido qualquer filiação partidária. Teve equilíbrio para, uma vez no poder, não ser o radical que seus opositores vaticinavam. Ao fim do mandato, teve capacidade para escolher e eleger a sucessora, uma mulher que apesar de sua militância da juventude, não teve experiência eleitoral anterior. Sua doença, mesmo controlada, ainda preocupa a Nação e deveria merecer mais respeito dos seguidores. O próprio Lula deve estar impaciente e louco para se meter em bastidores e campanhas eleitorais. Mas aqueles que são seus verdadeiros amigos e querem sinceramente a sua recuperação, deveriam evitar. Lembrá-lo dos riscos de complicações e, principalmente, que o mais importante, no momento, é a preservação de sua vida. Ainda restam na memória de todos os brasileiros de meia idade as imagens do calvário de Tancredo Neves. Em 14 de março de 1985, depois de mais de três décadas de políticas de conciliação nacional, na véspera de assumir a presidência da República na condição de primeiro civil a chegar ao poder depois de um ciclo de 21 anos de governos militares, o presidente eleito é internado e operado. Morreria no dia 21 de abril. Soube-se que, diante da delicadeza do momento político, Tancredo negligenciou com a própria saúde e, apesar de ter garantido a transição democrática, não teve como salvar a própria vida. Além de Tancredo, existem muitos outros casos de políticos, empresários e figuras influentes que, por força de seus compromissos, pereceram por deixar a própria saúde em segundo plano. O destino, mais uma vez, foi bom com Lula. Seu mal só foi diagnosticado depois de cumprida a jornada e entregue a presidência da República à sucessora regularmente eleita. Isso tem de ser reconhecido por ele próprio e pelos seus aliados. O calendário o beneficiou, mas todos têm de reconhecer as limitações do ser humano. Isso pode representar a diferença entre a vida e a morte... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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