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Opinião
21/03/2012 - 07h00
Tempo, pintura e fotografia
José Roberto Castilho Piqueira
 

O conhecimento humano hoje acumulado é de tal monta que as grandes mentes do mundo moderno, cada vez mais, se ocupam de discussões que passam ao largo do dia-a-dia de nosso cotidiano.

Por exemplo, os físicos de hoje conjecturam a inexistência do tempo. Seria possível para nós, acostumados às marcas da passagem dos anos, imaginar que o tempo, medido pelo vai e vem de um relógio de cuco ou pelo período de emissão de radiações de átomos de césio é produto, apenas, de uma abstração?

Dos físicos aos críticos de arte, que discutem com veemência se é possível dar à fotografia um status de arte equivalente ao da pintura. Será essa discussão relevante para aquele que quer, apenas, apreciar o que lhe parece belo, deixando que essa beleza flua pelo contexto de suas experiências de vida?

Por que começamos este pequeno ensaio? Talvez porque a sociedade moderna, com seus computadores, GPS, máquinas digitais e obras grandiosas coloca os físicos perto da arte e os artistas, perto da ciência, ambas, arte e ciência, pertinentes ao mundo da concretude e com entendimento tão dependente da subjetividade de nossos pensamentos.

É possível que o bom entendimento do mundo dispense o excesso de tecnicismo e nomenclatura e prosseguiremos dando-nos essa liberdade.

A mecânica clássica, cujos rudimentos fazem parte de todos os currículos escolares, divide os fenômenos em estáticos e dinâmicos, enfatizando que aqueles são casos particulares destes, como se isso fosse a essência do entendimento. Escolher a estática ou a dinâmica como centro da atenção depende do contexto: para construir um prédio, estática; para uma viagem de carro, dinâmica.

A fotografia, então, é estática ou dinâmica? Deve ter o mesmo status da pintura, ou não? Responder essas perguntas é relevante? Acreditamos que pensar essas questões importa para aprimorar o entendimento, entretanto, estabelecer nomenclaturas e fronteiras é uma atitude, apenas, autoritária e de pouco valor.

Ao pintar um quadro, o artista registra na tela como sua mente enxerga uma paisagem, uma natureza morta, uma figura ou uma questão social. É um instantâneo de uma dinâmica passada, transformado em um conjunto estático, um processo mental, dinâmico por natureza.

O fotógrafo registra um instantâneo objetivo, procurando ângulos favoráveis para a melhor observação. O substrato é o mesmo do pintor, mas a física da máquina, digital ou não, faz um registro unívoco de uma possível idéia ou mensagem, não permitindo qualquer adição ou subtração.

Ambos, o quadro e a foto, são registros estáticos perenes. A dinâmica de ambos os processos está na subjetividade das mentes que os apreciam, individual ou coletivamente.

Quando olhamos para um quadro de Matisse, mergulhamos no seu mundo e transportamos para nossa mente uma miríade de sensações, transladadas ao longo do tempo para nossa experiência de vida. Podemos adicionar ou subtrair o que nossa mente pedir e o resultado também é dela, sendo variável com resultado dependente de nossa medição do mundo.

Uma foto de Evans, em contrapartida, também nos provoca uma multiplicidade de sensações, com adições e subtrações mentais originárias da nossa experiência. O resultado, entretanto, sempre estará no universo fotografado, por exemplo, o Metrô de Nova York, com franqueza e a realidade das pessoas fotografadas.

Enfim, Evans e Matisse nos permitem criar e reproduzir experimentos e sensações inusitadas, precisas ou incertas, análogas aos processos quânticos ou clássicos. Os nomes atribuídos, pouco importam.


Nota do Editor: José Roberto Castilho Piqueira é Vice-Diretor da Poli-USP e Diretor Presidente da Sociedade Brasileira de Automática.

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