Não lembro bem como foi o início, penso até que já havíamos iniciado antes, bem antes do início que podemos lembrar. Têm vezes que a vida é tão confusa que nem sabemos mais de nós mesmos. Tenho muitos defeitos, sou intolerante com a burrice que não se vigia, a idiotice constante, mas isso não prejudica o amor que eu sinto, porque em geral sou mais exigente comigo mesmo. Aos outros eu alivio. Mas tenho que reconhecer que muitas vezes não soube usar o amor. Aí agi como se detestasse, o que em verdade eu amava. Talvez tivesse sido por insuficiência de amar o amor bonito. Daí preferi mostrar minhas garras. Não lembro de uma vez sequer que eu tivesse sido bem elegante dominando a arte de amar. Mas lembro de vários momentos que eu estraguei por pirraça, desequilíbrio e depois sofria pra valer mas não pedia desculpa, eu pensava que feri a mim mesmo, assim eu era a vítima, e é a vítima que recebe desculpas, estando isento de se desculpar. Teve momentos em que me senti tão só e sem condição de ofertar qualquer coisa, porque ninguém quer solidão de presente. Daí eu ficava isolado cuidando de mim, como se eu soubesse cuidar... Lembro de uma frase da querida e eterna Cecília Meireles: “AMOR SERÁ DAR DE PRESENTE AO OUTRO A PRÓPRIA SOLIDÃO?”. Bem, vou ficando por aqui, porque hoje quero estar só. Assim, nem para escrever eu sirvo, porque escrevendo sinto a sensação de estar acompanhado, alguém invisível anotando os meus erros, um fiscal do governo querendo tributar minha solidão.
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