Há aproximadamente três anos e meio, em meados de outubro de 2008, o mundo enfrentava uma crise que, à época, vinha sendo propalada como a pior desde o crash da bolsa americana em 1929. Aqui no País não era diferente, e os arautos do apocalipse previam um verdadeiro desastre. Lembro-me de uma reunião na Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), onde analistas carregaram na tinta e nos apresentaram a previsão catastrófica de desemprego em massa, alta da inadimplência e “quebra” do recém-reciclado crédito imobiliário. Realmente os bancos haviam restringido o crédito após a falência do Lehman Brothers e algumas empresas que haviam aberto o capital recentemente começaram a enfrentar dificuldades, e tais obstáculos econômicos alimentavam os noticiários diários. Em meio a esse turbilhão de acontecimentos, fomos convocados para uma reunião com a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Paulo Safady Simão e José Carlos Martins, pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Sergio Watanabe, pelo SindusCon-SP, João Crestana e eu, representando a Comissão da Indústria Imobiliária e o Secovi-SP, partimos para esse encontro em Brasília. Ao chegarmos, tomamos um susto, pois também haviam sido convocados o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, a presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, o vice-presidente de Governo, Jorge Hereda, a secretária de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, além de representantes do Ministério do Planejamento e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O tema da reunião era justamente o momento delicado que atravessavam as empresas imobiliárias, tal e qual o universo das empresas brasileiras com capital aberto naquele momento de crise, e a consequente retração dos bancos na concessão de crédito. Durante o encontro, representantes da Abecip ficaram de um lado afirmando que não havia falta de financiamento, e nós, emissários do setor produtivo, do outro lado explicando as reais condições de operação do mercado. Diante do que mais parecia uma tribuna de “acusação e defesa”, a ministra Dilma Rousseff nomeou um pequeno grupo para ouvir os representantes das grandes empresas, em dificuldades ou não. A partir dessas reuniões, o governo conheceu a real situação do mercado imobiliário, e resolveu publicar Medida Provisória tornando disponível R$ 3 bilhões de capital de giro para as empresas imobiliárias, a partir da Caixa Econômica Federal, financiar SPEs (Sociedades de Propósitos Específicos), fusões e aquisições. Também foi criada a CaixaPar. Passados quatro ou cinco meses daquele primeiro encontro em Brasília, e após sucessivas reuniões com representantes do setor, no início de 2009 o governo federal anunciou o programa Minha Casa, Minha Vida, cujo fundamento principal era o da simplicidade, o de “não inventar a roda”. Foi assim que a construção civil imobiliária respondeu com maturidade ao chamamento governamental e após 20 meses comemoramos a contratação de mais de um milhão de unidades habitacionais, mesmo com o sacrifício de empresas que contrataram 480 mil unidades na faixa 1 (aquela destinada a famílias com até três salários mínimos), com valores já defasados e sem o devido equilíbrio financeiro nas operações. Sempre vale lembrar essa parte da história do nosso setor até para fazer um alerta aos envolvidos na segunda fase do Minha Casa, Minha Vida: deixem o programa simples! Não criem novos obstáculos, pensem no equilíbrio das operações e na saúde das empresas, sob o risco de repetirmos o que aconteceu em outros programas habitacionais sociais desenvolvidos no País. As empresas e o mercado imobiliário amadureceram e agora esse programa, que é fundamental para o Brasil, necessita atingir sua maturidade para que seja perene. Nota do Editor: Celso Petrucci é economista-chefe do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) e diretor executivo da vice-presidência de Incorporação e Terrenos Urbanos da entidade.
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