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Opinião
16/04/2012 - 06h07
Uma luta pelo resgate da dignidade
Rosane Gutjhar
 

No dia 29 de setembro de 2006, 154 pessoas morriam no Voo 1907 da Gol, que caíra sobre a Amazônia. Dentre elas, meu marido Rolf. No acidente que matou meu marido e todos os que estavam no Voo 1907, os responsáveis foram os pilotos norte-americanos Joseph Lepore e Jean Paul Paladino. E essa constatação não é uma opinião minha, mas das provas técnicas e científicas constantes do processo criminal e dos processos que resultaram em condenação dentro da própria ANAC. Na contramão do céu, e com o transponder e o TCAS (sistema anticolisao) desligado, eles invadiram o espaço aéreo e jogaram o jato Legacy que pilotavam contra a aeronave da Gol.

Lepore e Paladino não só saíram milagrosamente ilesos do acidente como atuam até hoje como pilotos. O primeiro, na American Airlines e, o segundo, na ExcelAire. Foram julgados em primeira instância em 2010, quando receberam a pena de 4 anos e 4 meses, substituída por prestação de serviços comunitários em uma instituição brasileira nos Estados Unidos. Hoje o processo está em segunda instância, para ser julgado pela Terceira Turma do Tribunal Regional Federal, cujo relator é o Desembargador Tourinho Neto. Até hoje, os dois responsáveis pela morte do meu marido e de todos os passageiros e tripulantes do Voo 1907 da Gol estão livres, felizes e trabalhando normalmente.

Me pergunto diariamente: e se a situação fosse inversa? Dois pilotos brasileiros matassem 154 americanos em território americano. O que aconteceria com nossos pilotos? Com certeza a situação seria outra...

Depois de quase 6 anos do acidente, numa luta constante, solicitando apoio e ações efetivas do Governo Brasileiro, conseguimos em 2011 e no início de 2012 alguns avanços, entre eles o reconhecimento da ANAC (Agencia Nacional da Aviação Civil) pela culpa dos pilotos e a finalização do processo administrativo contra os pilotos norte-americanos. Nesse processo, provou-se a culpa dos pilotos em vários fatores. Porém o órgão brasileiro pode apenas aplicar uma multa. A punição de fato - que será a cassação do brevê - só pode ser realizado pelo órgão americano FAA.

Mais uma luta pela frente, só que agora respaldados. Comissão de Relações Exteriores da Câmara Federal, ANAC, DECEA, Ministério das Relações Exteriores e Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República estão nos apoiando e intercedendo junto aos Estado Unidos para que as sanções administrativas sejam cumpridas, conforme previsto nos tratados de cooperação entre os dois países. Ações essas que devem culminar para a cassação do brevê dos pilotos.

Me emociono quando vejo que não estou sozinha nessa batalha. Juntamos mais de 190 mil assinaturas que foram entregues à Presidência da República. Contribuímos para a alteração da forma de proceder da ANAC e atualmente os brasileiros que moram nos Estados Unidos estão entregando cartas aos deputados americanos para que atuem na cassação do brevê. Há uma petição sendo movimentada nos Estados Unidos para ser entregue ao FAA. Formadores de opinião, artistas, jornalistas e milhares de brasileiros enviam mensagens de solidariedade nessa luta incansável pela justiça.

E se não bastasse o processo criminal principal e o administrativos, lutamos ainda por mais duas causas: a pilhagem dos corpos das vítimas e a retratação do jornalista americano, Joe Sharkey. Em relação ao processo de pilhagem dos corpos, que tramita na Comarca de Curitiba deverá ser julgado em primeira instância até final de Maio 2012. Já no processo contra o jornalista do New York Times, que estava no jato Legacy no momento do acidente, que entre muitas ofensas escreveu que o Brasil é terra de tupiniquins, samba e prostitutas, já foi julgado na esfera civil, em última instância, onde foi condenado e não recorreu da sentença. Na esfera criminal, houve o reconhecimento de que o jornalista ofendeu a Presidência da República, o Congresso Nacional e a Polícia Federal. Inclusive protocolamos essa sentença junto aos órgãos brasileiros para que medidas sejam tomadas.

Não vejo minha luta em vão. Enxergo minha batalha como a recuperação da dignidade daqueles que morreram no acidente, de suas famílias e de todos os brasileiros. Precisamos viver e deixar de legado para nossos filhos e netos, um mundo mais justo e de ideais. Espero do fundo do meu coração que as penas que foram anunciadas tanto no processo criminal quanto no administrativo sejam bem diferentes das que venhamos a receber daqui em diante. Contamos para isso com o apoio de todos que acreditam na justiça. Eu nunca perderei as esperanças e não vou desistir.


Nota do Editor: Rosane Gutjhar é diretora da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907.

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