Quem assistiu, ainda que pela televisão, a instalação da CPI do Cachoeira - que tem por objetivo investigar a intromissão do crime organizado no Executivo, Legislativo e até no Judiciário, em níveis federal, estadual e municipal – saiu com a impressão de que desta vez haverá a mais severa e competente verificação dos problemas e a exemplar punição dos envolvidos. Os discursos proferidos pelos parlamentares, deputados e senadores, entre eles os líderes partidários, não deixam a menor margem para outro raciocínio. Só se todos forem os mais desprezíveis e cínicos mentirosos do país!

Pela primeira vez em dezenas de CPIs já instaladas ou propostas – boa parte delas terminadas em “pizza”, como se diz no jargão popular – os congressistas de todas as tendências apontam na mesma direção. Destacam, não ser esta uma CPI contra o governo ou contra a oposição e muito menos contra esse ou aquele partido político. Todos enfatizaram que o grande foco é identificar a ação do crime organizado nos negócios e órgãos do governo em todos os níveis, especialmente a corrupção, o superfaturamento de licitações e obras e o pagamento de propinas e financiamento criminoso de campanhas eleitorais. Repetiram inúmeras vezes a frase termo “doa a quem doer”, ultimamente utilizada pelo ex-presidente Lula, para afirmarem que não haverá a menor contemplação ou favorecimento para aqueles que erraram, independente de quem sejam.

Tudo aquilo que disseram os congressistas é, na verdade, o que o povo quer ouvir e em que se esforça para crer. A concretizar-se o dito, dificilmente teremos o dissabor de ver as apurações inconclusivas e os errantes, já escrachados pela investigação policial e respectivo noticiário, saírem ilesos ou se beneficiarem por esquemas corporativos ou protelatórios, como os que se tem visto agir nos escândalos político-administrativos anteriores.

Por tudo o que já viu acontecer em relação às CPIs passadas, o povo é potencialmente descrente. Pensa-se na possibilidade dos envolvidos poderosos e influentes promoverem um “acórdão” onde tudo seja desclassificado como prova e ninguém punido. Isso não pode acontecer, principalmente depois de tudo o que se disse nesta quinta-feira na Câmara Federal – e para todo o país nas imagens da TV Câmara – sobre os objetivos da CPI que se instala. As investigações do Ministério Público e da Polícia Federal são o grande ponto de partida para essa importante tarefa moralizadora, e a imprensa livre constitui o grande elo entre as ações investigativas e a sociedade.

É importante ficar bem claro que ninguém pretende condenar inocentes. Mas que, em contrapartida, o que mais se almeja é todos os ladrões do dinheiro público identificados e punidos. O dinheiro que furtam através dos diferentes esquemas fraudulentos é o mesmo que falta para serviços essenciais à população. Muita gente morre pela falta desses recursos. Não dá para continuar assim!

Além da possibilidade de ver punidos e até na cadeia os participantes do esquema Cachoeira, crescem agora as esperanças diante das notícias vindas do STF de que, nos próximos meses, serão julgados os réus do “mensalão”. Oxalá todos eles, cada um na medida de sua culpa ou dolo, receba a mais justa reprimenda. Isso será uma importante prova da vitalidade de nossa democracia...

Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).