Ele, o escritor desconhecido, já escreveu diversos textos. Alguns foram veiculados na imprensa brasileira, mas este é desafiador. Neste, focará a história de sua geradora. Que, a meu ver, são histórias parecidíssimas. Portanto, o ajudarei. Pedirei “licença” às divindades celestiais para auxiliá-lo a descortinar e discorrer sobre esse assunto melindroso. Abrem-se as cortinas e entra em cena o roteirista da história. - Ora, nem sei como iniciar. Mas, vejo sempre seus filhos trilhando na rua. Pelo que eu sei, eram sete, mas quatro foram “engolidos” brutalmente pela morte. Inclusive ela, a inspiradora desta crônica. Seus filhos, pelo que dizem, são abastados e vivem à margem da sociedade. Nobre amigo escritor, como você fará para remontar um passado de uma mulher desconhecida? Logo, perguntei. - É verdade, não tinha pensando nisso, nobre. Porém, ontem, pensando nesta história intrigante, recebi um telefonema de um amigo que há muito tempo não o via. E, durante o diálogo, percebi que ele era amigo da família militante. Ele, o amigo, tornar-se-á uma fonte, positivo? Conclui. - É “vero”, rapaz. Já dizia um grande escritor: as fontes sem o historiador são sacos vazios. Continue. - Está me surpreendendo, hein! Ao que respondi: - Pude aprender com os meus professores universitários. - Ok. Respondeu ele. Começamos a traçar diversos diálogos. Contudo, fiz questão de colocar em pauta este. Ele, entendido do assunto, disse que aquele nome não era estranho. Eu, interessado em saber mais da “desconhecida”, o pedi mais informações. Ele, contou-me apenas que ela era alcoólatra, viúva de um alcoólatra e vivia “largada” na rua. Caramba! Ele nem precisa contar-me mais nada, né? Estou ansioso para ler este seu texto. - Posso ser sincero? Indagou-me. - Claro. Respondi. Então, ele continuou: - Esperava mais, porém o escritor sou eu. Logo, sou eu que preciso rechear o texto com informações recolhidas. - Por isso que eu sou seu fã. Falei-lhe com um sincero sorriso no rosto. Logo, me mostrando suas anotações disse: - Então, vede aí o que eu pude criar com as informações recolhidas: “Negra. Alcoólatra. Mãe ’perfeita’. Nas ruas, era gozada por muitos. Debruçava no balcão para descansar da fadiga da cachaça. Uma de suas filhas escondia a comida e a deixava com fome. Nas residências, era vista como uma mulher guerreira e destemida. Tinha alguns costumes da época – usava lenço na cabeça para cobrir o desbotado cabelo. Trajava roupas batidas e sempre levava sacolas de alimentos para os seus filhos.” Com um gozo no olhar, fiz minhas observações sobre o relato: - Pelo que eu entendi, ela era uma mulher como todas. Não estava isenta de ser domada pelos vícios. Sua família, totalmente despreparada para cuidar de uma mulher dependente dos filhos. Entretanto, você remontou com sutileza a vida de uma sofredora que não se entregou para a morte, mas foi vencida por ela por mostrar-se fraca, muitas vezes. Beberrona, como era chamada pelas amigas, mas uma cidadã que era respeitada por onde passava. Essa foi minha compreensão. Penso que me excedi nos meus comentários, perdoe-me, sou apenas um crítico literário. Percebendo a sensatez de minha análise, o amigo escritor exclamou: - Foste feliz em suas palavras, fique tranquilo! Enfim, um filho preocupado em mostrar a realidade do seu berço e não nega que é filho da “desconhecida”. Para os filhos em vida, não se esqueçam do seu berço. O dia que estiveres pisando no chão e não sentir mais o peso da crosta, é a hora de rever os conceitos. Nota do Editor: Leandro da Silva, professor de História pela Universidade Gama Filho. E-mail: prof.leandrosilva23@yahoo.com.br.
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