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SEÇÃO
Crônicas
26/04/2012 - 09h00
Os gêmeos
Vânia Lopes
 

Dizer que eram cara de um e focinho do outro, era acertado. O nome também não ajudava muito. Felisbino e Felisberto. A mãe escolhera Albino e Roberto, mas na hora do registro, embriagado de alegria e cachaça, o pai resolveu acrescentar o “Feliz.” Com os olhinhos estrábicos e o cabelo pixaim, eram sem dúvida as crianças mais feias da maternidade. Os garotos cresceram idolatrados em casa e odiados na rua onde moravam. Eram dois pestes. Não havia uma vidraça que não tivesse sido batizada pelos seus estilingues. Não havia jardim que não tivesse tido suas flores arrancadas, e até os cães ganiam assustados quando os viam se aproximando. Quase todos conheciam a força daqueles pezinhos tortos e perversos. Na escola eram de pouco falar e de muito aprontar. Não conseguiam aprender nada e ainda atrapalhavam os outros alunos. Eram mudados constantemente de sala, para alívio dos colegas de classe e dos professores. A diretora pagava metade de seus pecados, todas as vezes que os dois iam parar na diretoria. Não cumpriam castigos, arremedavam sua fala quando ela tentava dar bronca, e ainda por cima brincavam de luta em sua presença. Uma única vez foram convidados para uma festinha de aniversário. Abriram e morderam metade das balas, estouraram todos os balões, bateram nas crianças menores, apagaram as velinhas no lugar do aniversariante e derrubaram refrigerante por cima do bolo antes que fosse repartido. O dono da casa pediu sem nenhuma gentileza que se retirassem. Quando completaram dez anos, seus pais resolveram festejar. Foram de casa em casa fazendo o convite. As poucas pessoas que atenderam ao casal deram várias desculpas para não comparecerem: “Vou levar meu menino ao dentista.” “O médico proibiu meus filhos de comerem açúcar.” “Minha menina enjoa em festas.” “Justo hoje vou receber uns parentes da minha sogra.” E assim só uma família compareceu. Era um casal morador recente no bairro, e tinham dois filhos. Um menino de sete anos e uma menina de onze. As crianças logo se enturmaram, foram brincar longe das vistas dos pais e só reapareceram para cantarem “parabéns.” Quando os novos vizinhos foram embora, Felisbino e Felisberto estava muito sério, não se falavam e olhavam um para o outro de maneira agressiva. Os pais estranharam, mas não deram muita importância. Julgaram como coisa de criança. O que eles não sabiam é que amizade entre os gêmeos fora afetada, por terem se encantado pela mesma menina, e terem ouvido dela o quanto eram feios. Culpavam um ao outro por compartilharem de tão grotesca aparência.

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