Por culpa do advento do classicismo renascentista, que tornou conhecido os gêneros tragédia e comédia, hoje não sei o que escrevo se tragédia para purificar sentimentos ou se comédia para focalizar uma situação cômica e ridícula. Penso em tragédia, mas fogem de mim as condições necessárias, além do mais teria que seguir a lei das três unidades: tempo, espaço e ação. Tempo, já não existe. Espaço, é imensurável a distância entre o eu e o tu. Ação, esta esbarra na causa e efeito, o corpo já não atua sobre o outro. Apelaria para o drama, então? Talvez com as minhas “lamúrias”... Afinal, o que o caracteriza não é a exploração dos sentimentos humanos? Se não tenho argumentos próprios recorro ao lirismo de Camilo Pessanha, pois é sabido que a dor de ficção comove mais que a dor real, assim para “impressionar”, poderia então confessar: “Tenho sonhos cruéis; n’alma doente / Sinto um vago receio prematuro / Vou a medo na aresta do futuro, / Embebido em saudades do presente”. Sabe, acho que estou mais para o tragicômico e bem me cabe o papel de “Pagliacci”, para tanto, buscarei em Leoncavallo o seu “Ridi” e em súplica pedirei que transforme em brincadeira o tormento e o pranto e em uma careta o soluço e a dor...
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