"Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança, desde que me tornei homem, eliminei as coisas de crianças”. (I Cor. 13.11).
E agora?... Quando era pequeno, essa pergunta fazia parte constantemente do meu dia-a-dia. Às vezes me pegavam na escola olhando para o céu e tentando imaginar onde eles estavam. Uma certeza eu tinha, eles eram meus protetores fiéis, muito embora não estivessem visíveis. Em sala de aula aprendendo as disciplinas, estava bom, mas na hora da saída quando os pais dos meus amigos iam até à escola para buscá-los, para mim aquele momento não era mui agradável. Me sentia muitas vezes uma criança desolada, sem rumo, incapaz de reverter aquele padrão de vida. Eu tinha que descobrir uma maneira de tornar-me visível para as pessoas que estavam ao meu redor. Então, comecei a aprontar algumas travessuras na escola. Alguns professores diziam à minha irmã que eu precisava de um tratamento urgente, pois não estavam com paciência para me aturar. O que eles não sabiam era que o meu comportamento não era provocador, e sim uma maneira de conquistá-los. Bem, o que eu queria encontrar na escola, me faltava em casa. Então, tive que aprender a conviver sem os meus defensores. Havia me tornado uma preza fácil para o mundo. Resolvi então encontrar amparo nas amizades do colégio, nos professores e com alguns amigos da rua. Eu sabia que não seria o mesmo afeto de pai e mãe, mas eles poderiam me ajudar a ser uma criança sadia. O tempo foi passando, e pude notar o quanto fazia falta uma família na vida de uma criança. Quando perdi meus pais, não fiquei só. Deus colocou no meu caminho minha irmã, Claudia Regina da Silva Santana que abdicou de seus sonhos para educar-me e mostrar-me o caminho que deveria ser trilhado. Porém, milhares de crianças no mundo afora, que não possuem seus pais, são maltratadas, ignoradas, muitas vezes pelos próprios parentes. Não posso esquecer das crianças que possuem seus pais, mas ausentes. Eles transferem para a escola algumas de suas obrigações. Dentre elas, a de fornecer aos filhos o afeto. A escritora Lya Luft, no seu belíssimo artigo "Honrar pai e mãe", da Revista Veja, do dia 11/06/08, relata de forma objetiva o dever do lar em fornecer para a criança o afeto e a segurança emocional. Ficando a critério da escola em prover o espaço para as brincadeiras e os ensinamentos. Se todas as famílias pensassem desta forma, não teríamos muitas crianças abandonando a escola, o lar, para viverem uma vida adulta precoce. E agora? Pensar, como se fosse adulto? Acordar cedo? E as brincadeiras de criança? Questões que merecem atenção! Quando nos deparamos com diversas crianças suplicando nos trânsitos, nas avenidas movimentadas, nos hospitais vendendo suas balas, seria bom que pensássemos antes de tecermos quaisquer comentários sobre. Muitas delas estão ali forçadamente pelos seus pais e outras não possuem famílias. Sei o que é sofrer de ausência de pais. Por isso, que através da escrita, peço aos familiares que deem mais atenção aos seus filhos, e para os filhos, honrem seus pais enquanto estão vivos. Agora, cresci. Nota do Editor: Leandro da Silva (prof.leandrosilva23@yahoo.com.br), professor de História pela Universidade Gama Filho - Piedade/RJ.
|