O Heubler e a Eustáquia estavam casados há muitos anos. E eram felizes. Mas, como todo casal, viviam brigando. O motivo era sempre o mesmo: a mania do marido em comparar o jeito da sua mulher fazer as coisas com o jeito que a sua mãe fazia. Ele até gostava da maneira que a Eustáquia cuidava da casa, mas gostava mais do estilo da mãe. E como era um cara sincero, falava isso abertamente. Sua mulher ficava louca, mas pelo bem do casamento acabava se acalmando e aprendendo a fazer cada uma das tarefas do mesmíssimo jeito que a sogra. Com o passar do tempo, a Eustáquia já estava craque em realizar todas as atividades domésticas seguindo os gostos do marido. Todas, tirando a comida. E nesse quesito a história era ainda pior. Por mais que tentasse, a mulher não conseguia copiar a sogra na hora de ir para o fogão. Até curso de culinária ela fez, e nada. E o marido chiando. Depois de certo tempo, aquilo virou prioridade para a Eustáquia. Era questão de honra aprender a cozinhar igual à mãe do Heubler. Tanto que ela roubou o livro de receitas da sogra e passou noites estudando. Quando sentiu que estava realmente preparada, chamou o marido e o intimou: - Amanhã no almoço vou fazer seu prato preferido. - Rocambole de carne? - É. Idêntico ao da sua mãe. Assim você vai parar de me encher com as suas comparações! Ou eu não me chamo Eustáquia. A pressão foi tão grande que o Heubler não pregou o olho aquela noite. No dia seguinte os dois almoçaram em total silêncio. O clima era de tensão. Mesmo assim o Heubler se esbaldou. Estava estampado na cara dele que a comida estava deliciosa. Após o cafezinho, a Eustáquia colocou o marido contra a parede: - E aí? O meu rocambole não está idêntico ao da sua mãe? Ele respirou fundo antes de dar a resposta. Sabia da importância daquele momento. - Sim, amor. Eu admito. Igualzinho ao da mamãe. Sem tirar nem por. Ela jogou os braços para o céu e exclamou: - Aleluia! Finalmente vou poder viver sem o fantasma da sua mãe e... Antes que a Eustáquia pudesse terminar a frase, o Heubler emendou: - É, mas ainda está bem longe do rocambole que a minha vó fazia quando eu era criança. Nota do Editor: Maurício Fregonesi Falleiros mantém o blog Vício Crônico (viciocronico.wordpress.com).
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