Ser humano, ser social. Depende de transporte para atender ao necessário relacionamento comunitário. Sítios arqueológicos africanos guardam provas de hominídeos migrando entre longínquas áreas, buscando alimento e proteção. Pedestrianismo, o primeiro modo de transporte. Exercício na forma de autocondução. Pés nos levam a qualquer lugar. A velocidade acaba os limitando, em função de premissas que a moderna civilização impôs. Na atualidade autocrática do automóvel não se aceita velocidade de 4 km/h para buscar pãozinho em padaria próxima. Sedentarismo institucionalizado pela imposição do carro. Pessoas com sobrepeso buscam academias em seus confortáveis veículos. Executivos padecem sob níveis de estresse minimizáveis com a caminhada casa-trabalho. Incongruência. Dinâmica e flexibilidade do transporte automobilístico como cara do século 20. Exulta-se a individualidade motorizada em nome da liberdade, enquanto as grandes cidades passam lentamente a sofrer de patologia desconhecida. Congestionamento. Especialistas estadunidenses passam a estudá-lo nos anos 50. Publica-se o compêndio terapêutico Highway Capacity Manual (HCM). Associa capacidade da via à duração da viagem, tratada como atraso de percurso. Maior o número de veículos, maior a capacidade, mesmo sem melhorias, porque se aceitam viagens mais lentas. Na condição extrema, tem-se o modelo por saturação absoluta. Nada evita o caos resultante. Acaba o rodoviarismo contemporâneo. Transporte público, solução. Metrô, posologia para a grande massa, sob pesados custos construtivos. Alimenta-o ônibus, que, por sua vez, depende de capilares viagens. Pedestrianismo e ciclismo como formas inteligentes de deslocamento para estes trajetos, cujos exemplos mundiais já provam amplo resgate da prática. Ao se pedalar, se consome 20 vezes menos energia do que no automóvel. Caso se opte por andar a pé, menor energia é demandada. Não se depende de qualquer massa veicular. Vantagens ao se queimar energia triglicerídea, a dos pneuzinhos acima da cintura e ainda liberar serotonina, neurotransmissor que torna desnecessário faixa-preta contra insônia e depressão. A democracia do transporte solitário pode ser praticada e respeitada. Pedestrianismo. Espelha conhecimento e responsabilidade, manifesto contra o desperdício. Não sepulta o automóvel, mas minimiza ditames fordistas. Esperemos, portanto, calçadas mais confortáveis e maior segurança pública por parte do poder constituído, do que avenidas que nascem sobrecarregadas ou caras obras que insistem em ficar em páginas policiais. Nota do Editor: Creso de Franco Peixoto é professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana), engenheiro Civil e mestre em Transportes.
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