Dizem as más-línguas que Jonas era tão medroso, que na hora do seu nascimento apontou a cabeça para fora por duas vezes e retornou ao útero materno por puro medo. Para que ele desocupasse as entranhas da sua mãe, foi preciso recorrer a uma cesária. Dizem ainda que se ele não mamou no peito, não foi por falta de leite, mas por medo das tetas enormes de sua progenitora. Durante a infância não brincava com os amiguinhos por medo de ser empurrado e cair. Agradá-lo com brinquedos era impossível, tinha medo de tropeçar nos carrinhos, medo de cair ao chutar bola. A mãe o levava ao parquinho, mas ele tinha verdadeiro pavor dos escorregadores e balanços. Passou oito anos no primário, não por burrice e sim por medo. Não se manisfestava em sala por medo de errar a resposta, não respondia a chamada por medo de rirem de sua voz, não gostava de desenhar por medo das figuras que ele próprio criava. Dormiu na cama dos pais até a idade de treze anos, porque tinha verdadeiro pavor de dormir sozinho. Apesar de medroso, Jonas se tornou um rapaz bonito e muitas moças quiseram namorá-lo. Escreviam cartas românticas, simulavam encontros ao acaso, e faziam tudo para conquistá-lo. O moço chegou a se interessar por algumas, mas faltava coragem para a aproximação. Aos vinte anos conheceu uma mulher quinze anos mais velha. Cheia de malícia e experiência ela conseguiu envolvê-lo. Jonas se entregou ao primeiro amor sem medo e em uma cerimônia simples aconteceu o casamento. Tornou-se pai de gêmeos. A menina era ágil, esperta e vivia rodeada de amigos. O menino era molenga, solitário e tinha medo da própria sombra. Jonas toda noite fazia companhia ao filho até que esse adormecesse. Cansada de esperar no quarto pelo marido, a esposa vinha buscá-lo e era uma dificuldade fazer com que ele acordasse e descobrisse a cabeça, pois Jonas nunca deixou de ter medo escuro.