Entender como o ser humano se desenvolve ao longo dos anos é um desafio da Psicologia. Inúmeros estudiosos buscam entender a relação entre o homem e o mundo ao seu redor, em diferentes fases e perspectivas. Algumas teorias são famosas, como a de Jean Piaget que foca principalmente nas diferentes fases de desenvolvimentos da criança e do adolescente. No entanto, o que menos sabem é que o desenvolvimento humano continua durante toda a nossa vida - o que inclui a fase adulta - e, muitas vezes, necessita de estímulos para ser alcançado. Assim como Piaget que, na teoria Cognitiva, divide em estágios o desenvolvimento do ser humano, Robert Kegan, estudioso que se dedicou à teoria do desenvolvimento humano construtivo, também divide em estágios o nosso desenvolvimento e aborda, principalmente, as etapas de nossa compreensão do mundo e de nós mesmos durante a vida adulta. Pela teoria de Kegan, a maneira como nós criamos significado para todas as coisas ao nosso redor e sobre nós mesmos evolui ao longo do tempo. Essas diferenciações são mais fáceis de serem observadas em uma criança e, por isso, até pouco tempo atrás, pouca atenção era dada às transformações, mais sutis e demoradas, nos adultos. Fica fácil notar a diferença de como uma criança de nove anos compreende um “não” e como um adolescente de 14 começa a entendê-lo. Um “não” para a criança será incorporado como uma ameaça ao bem estar, mas ela é incapaz de percebê-lo sobre o ponto de vista do outro. O adolescente, ao contrário, pode começar a se dar conta da perspectiva dos outros, ou seja, das pessoas que o dizem “não”. Da mesma maneira como no exemplo anterior, podemos analisar a condição estrutural como determinante na reação de um adolescente quando o pai chama a sua atenção. O adolescente pode ainda não ter desenvolvido o nível estrutural que o permite se colocar na posição do pai. Neste caso, a única visão de mundo é a dele mesmo. O desenvolvimento cognitivo também tem papel fundamental no meio corporativo, especialmente com os líderes, além da compreensão das relações familiares. Muitas vezes, no meio organizacional, espera-se uma pessoa capaz de tomar as próprias decisões, proativa e que não se apegue a opinião daqueles a seu redor. O que poucos sabem, no entanto, é que este posicionamento está ligado a um nível de desenvolvimento específico chamado de nível de própria autoria. A dificuldade em liderar, neste caso, pode refletir uma questão estrutural do ser humano e não a falta de uma competência técnica ou acadêmica. Pela teoria, há cinco estágios estruturais do desenvolvimento humano. Cada um deles trata da maneira como o indivíduo constrói significado do mundo ao seu redor e dele mesmo. O primeiro estágio refere-se a um aspecto de construção da realidade onde o ser está em fusão com o meio. Se dá, principalmente, nos anos de vida primários. É quando a criança ainda não consegue se diferenciar como indivíduo. Quando chora e ao chorar entende que os pais sabem do que ela necessita. O segundo estágio, chamado de mente instrumental ou mente individualizada, é também muito comum em crianças a partir de aproximadamente seis anos até a pré-adolescência e adolescência. Aqui, ainda não começamos a descobrir diferentes perspectivas. Neste estágio, os indivíduos são auto-centrados, não por egoísmo ou algo do gênero, mas pela falta de estrutura para se colocar na posição do outro. Assim, o meio é visto como facilitador ou obstáculo para a realização do desejo pessoal. Já o estágio três é definido como mente socializada ou a mente tradicional. Trata-se do estágio no qual se encontram mais de 50% dos adultos. Neste estágio, o indivíduo define-se a partir da relação com o meio, à cultura e aqueles com quem se relaciona. No caso do driver de tomada de decisão de um líder, por exemplo, acaba sendo pautado por maneiras de se preservar uma relação em específico ou de acordo com um conceito pré-definido. O nível quatro de consciência é denominado autoria própria ou mente moderna. Nesta fase, o adulto já consegue avaliar e analisar independentemente do meio as diferentes situações. Permite a um líder, por exemplo, ser um co-criador de expectativas ao invés de um seguidor fiel. Por último, o quinto estágio é denominado auto-transformação ou mente pós-moderna. Poucas pessoas conseguem transcender para esta fase. Nela, os adultos buscam entender os limites de seus próprios sistemas interiores, procurando identificar semelhanças nas relações. É como se, o tempo todo, o indivíduo estivesse fora de si observando a si mesmo, o mundo e as relações entre todas as coisas. O processo de desenvolvimento acontece na medida em que transcendemos de uma fase para outra. Não se trata, no entanto, de um destino predefinido onde todos devem chegar a um determinado nível. Ao contrário, o desenvolvimento individual não tem relação nenhuma com a vontade própria e sim deve-se a uma combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos que requerem um nível de complexidade interna específico. O desenvolvimento é, então, fruto da relação ideal entre suporte e desafio, determinando assim, a necessidade da ampliação, ou não, do ferramental de construção de significado de cada um de nós. Nota do Editor: Tatiana D. Weil é a idealizadora da consultoria Olhares Desenvolvimento Humano, administradora de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (EASP -FGV) e mestre em Desenvolvimento Humano pela Universidade de Harvard. Após atuar em empresas como SLW Corretora de Valores, Young andRubicam, Pepsico e Editora Abril, principalmente nas áreas de marketing e planejamento estratégico, começou a se dedicar ao estudo de teorias e práticas que promovessem o auto-conhecimento e ajudassem as pessoas a ampliarem as suas perspectivas e competências. Especializou- se em “Subject Object Interview”, ferramenta que permite identificar o estágio de desenvolvimento do indivíduo, e no “Four Columns Exercise”, ferramenta desenvolvida por R. Kegan para trabalhar aspectos da vida de um indivíduo num processo de coaching. Também se dedicou ao estudo do “Integral Coaching”, por meio da Integral Coaching Canada, às técnicas de constelação familiar, além de possuir a certificação MTBI, para avaliações da personalidade.
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