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Crônicas
12/06/2012 - 15h01
Sem grana para pagar a conta de ar, morreu
Paulo Sanda - EcoDebate
 

Era o último adeus para Uóchintom.

Familiares e amigos, estavam em redor. A viúva inconsolável, os amigos chocados, um ou outro conversava sobre o resultado do jogo, no dia anterior.

A coisa não foi justa, nosso time não tinha verba para o ar, por isto não conseguiu jogar direito.

Psiuuuu! Fala baixo cara, esqueceu do Uóchintom?

Ptz, é mesmo desculpe.

Mas também, porque eles não disseram nada, se soubéssemos, faríamos uma vaquinha, sei-lá a gente tentava dar um jeito, dele continuar a respirar também.

Pois é, ele estava desempregado há muito tempo, não conseguiu pagar a conta de ar, para toda família então decidiu que ele ficaria sem. Teve que se sacrificar para sua família poder continuar a respirar.

Mas e agora? Como eles ficarão?

Tudo bem, agora a viúva e os filhos receberão a cota deles pela assistência social.

Que loucura, a que ponto chegamos!

O diálogo acima, parece surreal, afinal não precisamos pagar para respirar não é?

Bom, ainda não.

O fato é que o capital só existe onde existe carência, ou seja, é preciso que não haja para todos, para que a coisa possa ter valor financeiro. Como temos ar o suficiente, então não há como cobrar por ele.

Só não posso garantir que a situação continue assim.

Não, não estou dizendo isto simplesmente pela poluição atmosférica, digo também, mas o fato é que a Rio+20 está se aproximando, e a proposta de economia verde que os poderes estão tentando nos enfiar goela abaixo, é o “esverdeamento” do mercado financeiro. Do que se trata isto, talvez você esteja se perguntando.

Aliás, que bom você estar se perguntando. Eu também fiz esta pergunta quando ouvi este termo, “economia verde” há algum tempo atrás.

Vou lhe contar, em palavras simples o que é esta tal economia verde.

Antes de mais nada, vamos ao slogan da Cúpula dos Povos - “Por justiça sócio-ambiental, contra a mercantilização da vida e em defesa dos bens comuns”.

Somente esta definição da Cúpula dos Povos, já é o suficiente para nos explicar o que não é a economia verde, e consequentemente a importância de haver este evento que ocorrerá paralelamente a Rio+20.

Mas vamos lá, a economia verde diz que, as coisas só podem ser preservadas, se tiverem valor.

Mas que valor? É obvio que os rios, as florestas, os animais e as aves têm valor!

Porém o valor neste caso, é o financeiro. Tem que valer dinheiro!

Era como se colocássemos tudo que existe em uma grande tabela de preços. É como, mas não é tão simples assim. Quando se fala em colocar preço, quer dizer transformar a vida em papel, para servir na jogatina do mercado financeiro.

Em última análise, pegamos o ar e emitimos bônus de ar puro, estes serão negociados no mercado financeiro, os especuladores irão comprar, vender e tirar lucro com isto. Da mesma forma que se faz com ações e empresas, moedas (câmbio), índices etc.

E sabe o que acontece com isto?

Quem não pode pagar fica de fora!

Novamente indo as últimas consequências, o pobre vai ter que deixar de respirar, ou respirar menos.

Pois a emissão dos bônus de ar, não fará com que tenhamos mais ar, muito pelo contrário, quanto menos ar limpo houver, mais valiosos serão os papeis de ar, e quanto mais valiosos eles forem, mais o mercado financeiro fará dinheiro com eles.

E com o ar cada vez mais raro, adivinha quem vai ficar sem?

O pobre, é lógico!

Estou maluco? Delirando? Ou apenas falando asneiras?

Infelizmente ainda estou meio lúcido.

A vida vem sendo mercantilizada não é de hoje.

A comida um dos elementos básicos para manutenção da vida, é commoditie, ela é transformada em mercadoria, esta mercadoria em papel, e este papel é negociado nos mercados internacionais. Com isto, a comida, que deveria ser direito básico de todo ser vivo, não digo nem humanidade, mas de todo ser vivente, pois precisamos de todo o planeta vivo, para que continuemos nós também, pois bem, ela, a comida, que virou commoditie, faz falta onde ela é produzida. Os que vivem a margem das grande criações de gado, por exemplo, não têm acesso fácil a ela, pois o preço dela não é definido lá, onde ela é produzida, mas lá fora, nos grandes centros urbanos, no Brasil e no mundo. O mesmo acontece com a soja, o milho, enfim tudo que virou papel, para os cassinos. E não para aí, os demais alimentos, aqueles que não são commodities, têm cada vez menos espaço para seu cultivo, pois quem os produz, é a agricultura camponesa, e não a grande agroindústria. E como a terra é cada vez mais rara, os pequenos não têm vez, pois não podem concorrer com o poder do capital.

Junto com o alimento, temos a água. Esta sempre foi alvo de disputas, mas agora ela está na mira das grandes corporações, que a anos fazem campanhas para o consumo de água engarrafada. Pois a água distribuída pelas companhias de saneamento, não são de boa qualidade, pelo menos isto é o que as empresas querem que acreditemos. Para ver mais detalhes sobre isto, sugiro que assistam ao filme do História das Coisas, sobre Água Engarrafada.

E sobre o ar, na verdade a coisa já começou a acontecer há muito tempo, com a criação dos bônus de carbono, que é outra mentira deslavada. Existem grandes engodos para isto, um deles é a venda de bônus feitas por empresas que fazem um suposto reflorestamento, mas a verdade é que estas árvores serão cortadas e depois transformadas em algo, e consequentemente o carbono será novamente liberado, ou o uso de emissão de papeis, sobre florestas já existentes, não preciso dizer que isto é outra ilusão, uma vez que ela já estava lá. Tudo isto é feito para “legalizar” a poluição e movimentar o cassino.

Em todas estas mentiras, a vida é sempre deixada de lado, o que prevalece é o capital.

E aí, ainda pensa que sou maluco?

Se pensa, espero que você esteja certo.


Nota do Editor: Paulo Sanda é teólogo, chefe escoteiro, palestrante, idealista, associado da ONG RUAH e tem sido ativo participante das manifestações Belo Monte NÃO, em São Paulo.

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