O amor é uma conta bancária no saldo negativo. Calma, eu explico com carinho, sim, é saldo negativo, porque queremos sair do vermelho, sair do parque de diversões dos sorrisos de holofotes, daquela boate, das vidas vazias dos porões e almas sombrias, somar, tornar algo substancialmente visível e invisível na maior das porcentagens de crédito. Queremos crédito para ser ausente e sentido como homeopatia, lentamente. Depois queremos mais créditos para seguir devorados como febre de 39,5 depois do banho na chuva. Ambicionamos os créditos no final dos filmes, luzes escuras antes deles. Desejamos brincar na fila do show, comentar da roupa esquisita que o outro escolheu, de reparar no cabelo novo, no esmalte novo, no cheiro mais perto do pescoço. Sim, o cheiro no pescoço é o mais doce dos cheiros. O amor positivo vai acordar e dormir com você, mesmo em noites que nada ocorreu bem, mesmo que não esteja na mesma cama que você. O amor positivo vai deixar um bilhete de boa sorte, boa volta, boa ida, boa aula. Vai ligar nas horas ruins, vai levar você ao médico, vai segurar seu silêncio na ponta dos lábios, vai saber das suas verdades e não julgar antecipadamente suas mentiras. Vai guardar seus segredos, até amar não conhecer todos, porque conhecer completamente o outro é perder o mistério, perder o terreno dos segredos individuais. Vai te abraçar perto do mar quando tudo que te resta é silêncio. O amor com crédito vibra com suas conquistas, elogia sua força de vontade, admira aquela dedicação toda aos estudos. Planejam os filhos, as viagens, os passeios, até os livros. Amar é acreditar no equilíbrio. Amar é saber que qualquer um pode preencher o seu tempo, mas não sua vida.
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