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SEÇÃO
Crônicas
20/06/2012 - 15h04
A vizinha encrenqueira
Vânia Lopes
 

Pode perguntar a qualquer um. Leocádia era tão encrenqueira, que é lembrada até hoje em todo o bairro. Se passava pelas ruas e encontrava um grupo de senhoras, logo fechava a cara. Se a cumprimentavam era pior. Recebiam o nome de sem que fazer. Dona Leocádia achava o cúmulo do absurdo que mulheres casadas, perdessem tempo em conversas nas esquinas. As moças da vizinhança tinham-lhe verdadeiro horror. Se Dona Leocádia as encontrasse em uma simples conversa com algum rapaz, arregalava os olhos, empinava o queixo e as chamavam de perdidas. Nem as noivas e de casamento marcado escapavam. Se fossem encontradas de mãos dadas com o futuro esposo, tinham que engolir a insinuação de que se casariam buchudas. Quando ela passava em frente a algum boteco, esticava tanto o pescoço para ver quem estava lá dentro, que os ocupantes tinham a impressão de estarem sendo vigiados por uma cascavel. Até o mais corajoso tremia quando ela parava e com um dedo seco apontava para alguém e disparava uma metralhadora de acusações. Vagabundo, cachaceiro, pudim de cana, desocupado, come-e-dorme, eram só alguns dos apelidos que o infeliz recebia. As crianças também não eram poupadas. Caso estivessem jogando futebol e a bola caísse no quintal de Dona Leocádia, podiam esperar para a receberem de volta aos pedacinhos. Se as meninas começassem a brincar de amarelinha ou rouba bandeira, próximo ao portão da encrenqueira, logo tinham que mudar de lugar, pois justo nesse momento, Dona Leocádia resolvia lavar a calçada e enquanto lavava ia resmungando xingamentos. Até o padre suava frio, quando a via entrar na capela, pois a cada capítulo que ele lia das escrituras, era interrompido. Ela discordava de tudo e debatia sobre a bíblia com uma ferocidade assustadora. Se o sermão era sobre o salmo vinte e três “O senhor é o meu pastor e nada me faltará”, Dona Leocádia se avermelhava, levantava do banco e com ar maldoso, dizia que ali estava cheio de preguiçosos e que aquela promessa de benção, não estava sendo dirigida para aquele povinho à toa, e que o padre estava incentivando os fiéis a esperarem que as coisas caíssem do céu. Dizia ainda que cada ovelha tem o pastor que merece. Para alívio da comunidade Dona Leocádia faleceu. Sem ter outra opção, a morte a recolheu aos oitenta e nove anos.

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