A foto do encontro-aliança entre Lula e Maluf provocou um terremoto na política nacional. Era difícil imaginar que, depois de tudo de ruim que um falou do outro durante mais de 30 anos, um dia ainda fossem capazes de se abraçar e sair de braços dados. Mas quem verificar o que acontece nas políticas regionais e municipais, encontrará centenas de alianças entre ex-adversários mais preocupados com os votos das próximas eleições do que com os bons costumes e a moral. Isso sem falar do também nacional episódio do líder comunista Luiz Carlos Prestes que, depois de ter passado nove anos na prisão e ver sua mulher entregue pelo governo getulista para a morte na Alemanha nazista, ainda assim apoiou Getúlio Vargas e elegeu-se senador. Quando estão à procura de votos, os políticos fazem afirmações da mais alta gravidade contra seus adversários. Com elas, acabam sensibilizando o eleitorado e conquistando as posições e cargos almejados. Resta ao eleitor, bombardeado pela troca de ofensas entre os concorrentes, o sentimento negativo e até a repulsa ao adversário daquele a quem decidiu dar o seu voto. Mas o dia-a-dia da política e do exercício dos mandatos acaba levando os contendores a caminhos que o eleitorado nem de longe imagina. Muitos acabam se revelando absolutamente iguais e toda aquela carga de ofensas do passado cai no esquecimento. Aí é a hora em que o eleitor se sente enganado e adota as máximas populares vigorantes há décadas de que “todo político é sem-vergonha”, “é tudo farinha do mesmo saco”, e várias outras ainda mais ofensivas à classe. Mesmo com a possibilidade de não ser tão arrebatadora, a classe política deveria ser mais comedida e verdadeira na hora de fazer seus discursos para o eleitorado. Para evitar futuros constrangimentos, o quadro de promessas deve ser restrito às reais possibilidades de realização e jamais aos sonhos que se costuma pregar para o convencimento do eleitorado. Da mesma forma, os candidatos e líderes políticos precisam evitar o discurso carregado e, muitas vezes, maldoso contra os adversários. Não se esquecerem do ditado vigente no meio, de que o adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã. Velhos e indigestos hábitos da política servem para afastar, cada dia mais, os políticos do eleitorado e da sociedade. É preciso acabar com os artifícios de convencimento eleitoral. O Brasil será outro se, um dia, conseguir evitar a existência paralela da “moral dos políticos” e da “moral do povo”. Basta ter apenas uma moral. Para todos. Quanto às alianças políticas, se necessárias, devem ocorrer entre partidos, jamais entre pessoas... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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