Como se vive, convive com a tristeza? A gente vive ouvindo, lendo e vendo por aí as mil e uma maneiras de ser feliz. Acontece que não é só felicidade que existe no mundo. Esquecem da tristeza. Ela, que pode ser intensa, profunda e marcante como nenhum outro sentimento. E nunca vem só. Tristeza tem muitos acompanhantes, que se instalam dentro da gente. E não vão embora não. Alegria é feito passarinho arredio, come pelas beiradas, migalhas que a gente joga no terreiro. Se a gente se empolga e chega perto, ela voa e vai embora. Você tem que fingir que nem está aí, que não se importa, aí ela vem, fica um pouquinho. Mas é só você se acostumar que, no dia que menos se imaginar, ela bate as asas e vai embora. Já tristeza não. Tristeza é cão sem dono, abandonado, procurando uma casa pra morar. Você abre uma frestinha do portão e ele entra. Fica, mora. Faz companhia, e não vai mais. Vai ter um dia que você vai deixar a porta aberta, mas ele não sai. Se sai, volta pra casa. E, quando você toma coragem e resolve mandar embora, sente falta, sente o vazio. Afinal, o que preenche o vazio que só a tristeza pode dar? De certa forma ser feliz é conseguir ser triste sem se importar. A perseguição frenética pela felicidade é praticamente a insanidade generalizada da humanidade. E eu sou triste. Triste de um jeito estranho. Triste sem querer ser, mas não saber. Tentei viver sem a tristeza, mas tudo o mais era tão sem sentido, que voltei-me à ela. Só que, mesmo resignada, não sei como não ser feliz. Não sei ser triste, mesmo sendo triste. Essa dor enrolada no peito, essa angústia já ficou tempo demais. Mas eu não sei o que fazer. Afinal, só nos ensinam a ser feliz, e nada falam sobre ser triste.
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