Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que vem crescendo o número de divórcios no Brasil. Impulsionada por mudanças recentes na legislação, que retiraram exigência de prazos de separação para a dissolução do casamento, a taxa geral atingiu em 2010 seu maior valor, 1,8 por mil habitantes. Por várias vertentes podemos debater este aumento significativo, mas, principalmente, levando em consideração o casamento como uma instituição enfraquecida pelo tempo, decorrente de uma mentalidade contemporânea, e da mudança na postura e comportamento das mulheres e o amor romanceado que está em desuso. Acrescente a tudo isso a perspectiva de vida do brasileiro que também aumentou. Partindo da premissa que as pessoas vivem mais tempo, elas têm a possibilidade de mudar o rumo de suas vidas e resignificar aquilo que não condiz com suas vontades e desejos. Existe a perspectiva de mudar ao invés de viver da mesma maneira até o fim de sua existência. O casamento no século XII era visto como negócio. Era uma maneira das famílias ampliarem suas terras, enriquecer por conta do casamento dos filhos. Diga-se de passagem, o matrimônio só acontecia se os interesses financeiros mútuos dos pais fossem concretizados. O amor não era um sentimento importante para fazer parte das relações amorosas nesta época. O casamento não possuía laço afetivo e o amor era compulsório. É com advento do amor romântico, romanceado, que se internaliza o conceito de exclusividade e, portanto, casar implica em viver ao lado do outro. Um amor egoísta, mas a ideia de exclusividade gera também a noção de posse pelo outro, ou seja, as pessoas se pertencem, além do que, o amor experimentado nestas condições causa idealizações que não são correspondidas. É a possibilidade do amor no casamento que existe a infidelidade, a traição, mas esta é uma outra discussão. Regina Navarro Lins, psicanalista, no livro A cama na varanda, denomina este sentimento como “o mito do amor romântico”. O imediatismo de um amor baseado em expectativas pode ser trágico assim como foi para Tristão e Isolda e Romeu e Julieta. Deve-se transformar as concepções de amor para se mudar o casamento, começando talvez com a célebre e fatídica frase: “até que a morte nos separe”. Este é o casamento aprisionador, condicionado a uma regra intocável. Uma relação já marcada pela tragédia. A separação, antes algo extremamente condenável, hoje é uma possibilidade de romper com esta prisão de regras sociais retrógradas. O casamento deve ser livre e autônomo e, portanto, respeitoso em que o marido e a esposa possuem uma vida em comum e também possam preservar suas individualidades. As mulheres, personagens principais na celebração do casamento, são as condutoras dessa mudança de mentalidade quanto ao matrimônio, pois não se submetem mais a uma relação que não existe ou que está fadada ao fracasso. É a emancipação feminina e o reposicionamento na sociedade que homens, no encalço destas mudanças, também quebram com os paradigmas enfadonhos do casamento aprisionador. Não considero o matrimônio uma instituição falida, apenas sofre influências, positivas, deste novo momento em que vivem homens e mulheres. O aumento de solicitações de divórcio pode ser entendido como uma tentativa de ser feliz, mais uma vez e de outra forma, tentativas e erros, reconhecimentos de limites e um recomeço. A separação pode ser construtiva para as pessoas repensarem seus erros e refletirem sobre suas condutas no casamento e em suas vidas. O aumento de divórcios não é sinal de uma sociedade doente, mas de um novo momento no qual precisamos refletir. Nota do Editor: Breno Rosostolato é professor de Psicologia da Faculdade Santa Marcelina.
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