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SEÇÃO
Crônicas
06/07/2012 - 11h00
De médico e de louco...
Vânia Lopes
 

Ele não era médico, mas faltou pouco. Faltou fazer o fundamental, o ensino médio e cursar uma faculdade. Sim, porque José Januário tinha mal, mal, à quarta série. Apesar disso era chamado de doutor. Dotor Januário. São Romão era um pequeno povoado, e seus habitantes sobreviviam da pesca. Ali não tinha posto de saúde, e o único médico da região só atendia a quem tinha dinheiro para pagar pelo atendimento. No caso pouquíssimas pessoas. José Januário herdou dos avós a sabedoria das ervas. Para cada problema ele tinha uma indicação. O melhor de tudo é que ele não cobrava consulta. O atendido dava o que lhe mandava a consciência. Ovos, galinhas, mandioca era quase sempre pagamento. Se o sujeito chegava queixando de dor de dentes, a receita era uma raiz amarga que o infeliz tinha que mastigar do lado inflamado, incansavelmente por meia hora sem engolir o cuspe. No final da mastigação se os cacos não fossem expelidos junto com o bagaço da tal raiz, o camarada estava com os músculos da boca tão doloridos depois de tamanho esforço, que já nem se lembrava qual era o dente doente. Criança com verme? Era só levar no dotor Januário. Sempre havia uma beberagem a espera. O viventezinho bebia e no máximo duas horas estava obrando as tais lombrigas. Mais rápido que remédio de farmácia! Homem que já não estava dando no couro chegava envergonhado, de cabeça baixa, e logo saia de feição alegre carregando, escondido, a garrafinha milagrosa. Mulher frígida também o procurava. Para essas o atendimento era mais demorado. Nenhuma delas jamais contou o que se passava por detrás da porta trancada, mas era engraçado vê-las sair depois de meia hora, descabeladas, arrumando a saia e muitas vezes não traziam nas mãos nenhum remédio. O pior é que para essas sempre tinha retorno de consulta. O certo é que era Deus no céu e dotor Januário na terra, até que algumas senhoras casadas se enrabicharam e começaram a disputar as consultas à tapa. José Januário nessa época completara sessenta anos, e querendo viver ainda um pouco mais, fugiu de São Romão em uma fria madrugada. Meses depois da sua partida, o padre realizou dezena de batizados. Todos os recém-nascidos eram escurinhos e de nariz achatado. Coincidência ou não, tinham os mesmos traços do dotor Januário.

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