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Opinião
10/07/2012 - 11h02
Putas, pra que lhes quero?
Breno Rosostolato
 
Sociedade, prostituição e preconceito

Dizer que vivemos em uma época no qual o sexo é mais falado, debatido e discutido entre as pessoas, nas rodas de amigos e entre pais e filhos de fato é uma realidade. O mundo vive a era da “sexolatria”, mas, entre falar com naturalidade sobre o tema e a prática e a experimentação do sexo há uma grande distância. São coisas bem diferentes. Sexo ainda é um tabu na sociedade e as pessoas perdem-se quando se aproximam do próprio prazer. Muito embora o sexo venha sendo desvinculado dos conceitos arcaicos como algo pecaminoso e transgressivo, até porque, a permissão ao contato sexual com o outro deve ultrapassar o limite da repressão e do recalque, o tema desperta tanta curiosidade que é o cerne de muitas, se não da maioria, das questões intrínsecas à existência do ser humano.

O capitalismo é sexo. Compramos por vaidade, vontades que precisam ser concretizadas. Roupas, calçados, moradia, carros, em primeiro plano para satisfazer e posteriormente, para chamar a atenção do outro. O exibicionista coexiste ao voyerista. A cultura se molda diante das mudanças sexuais. O sexo dita as regras nas relações amorosas, o que lhe dá mais poder do que o próprio amor. O casal não vive apenas de amor, precisa do envolvimento sexual, do contrário, a relação está fadada ao fracasso. Uma relação sem sexo, com o tempo, se transforma em amizade, e isso não quer dizer que seja ruim, mas o casal deve aceitar esta condição para lidar bem com a situação.

A própria religião, que sempre foi o censor do sexo, não pode negar hoje que, debater o tema é importante e necessário. Em se tratando de sexo, desejo, prazer e tabu, a prostituição segue, mesmo diante destas tantas metamorfoses sexuais, com os próprios negócios em ascensão. Diga-se de passagem, a prostituta é um personagem muito antigo na história da sociedade. Na antiguidade, eram tratadas com respeito e faziam sexo com os sacerdotes, o que era considerado um ato de celebração aos deuses. Na Idade Média eram práticas costumeiras. Atividade repulsiva, mas tolerada, necessária para organizar os desejos da sociedade. Através da prostituição, jovens rapazes tinham sua iniciação ao sexo afirmando sua masculinidade.

Os padrões sexuais tornavam-se estáveis com a presença das prostitutas, pois, a ordem e a estabilidade social aconteciam mediante a satisfação da sociedade. A prostituição estava instalada desde bairros nobres até aqueles frequentados por marinheiros e camponeses. Os bordéis eram lugares terapêuticos, em que, homens casados depois de uma discussão com a esposa ou preocupações rotineiras com a casa e com o trabalho, buscavam os serviços da prostituta para extravasar a raiva, a ansiedade e o conflito vivido.

Mas afinal, por que a prostituição desperta o fascínio e, ao mesmo tempo, negação da sociedade? Por que os homens buscam os serviços da prostituta?

Não vivenciamos a libertação sexual. A impossibilidade de sustentar o próprio desejo e a predominância da culpa excessiva engessa os sentimentos das pessoas, fazendo com que ora o sexo seja autorização, ora distorção. A prostituição é a permissão, sem limites, da vazão ao desejo pleno. A fantasia é contemplada sem restrições. É com a prostituta que muitos homens descobrem seus mais profundos prazeres, o que faz com que, inclusive, projete nas esposas e namoradas a imagem da puta. Aquela que sabe todos os meandros do sexo e permite tudo. O controle ao sexo, ainda muito enraizado na sociedade, é o paradigma da censura rompido pela prostituta e as fantasias proporcionadas por ela.

O envolvimento com a prostituta não é destituído de afeto, pois, mesmo que breve, o propósito sexual é alicerçado por um sentimento, implícito, mas existente. A solidão vivida por muitos homens facilita a procura pelo serviço da prostituta, pois o homem cada vez mais é exigido das mulheres quanto ao seu desempenho sexual. Estas cobranças fazem com que ele se refugie com a prostituta, que o acolhe sem estas exigências, diminuindo o sentimento de angústia e frustração. O pagamento ainda reforça a falta de preocupação do homem quanto à satisfação da prostituta. O dinheiro pago o isenta de qualquer dívida, o livrando de vínculos, além de que os homens sentem-se poderosos e no controle da situação. O instinto sexual masculino e a virilidade são preservados e garantidos. Não se sentem questionados ou avaliados pelo que fazem ou deixem de fazer. Tudo está pautado na individualidade e na autosuficiência. É o imediatismo da satisfação atrelada ao narcisismo, que não admite o descontentamento do outro.

A dicotomia social sobre a prostituição é paradoxal. Se, por um lado, os serviços da garota de programa contribuem para a manifestação e realização de um desejo latente, por outro, revelam a hipocrisia moralista da sociedade. Quantas mulheres jovens são educadas para se casarem com homens ricos e de boas condições financeiras, hein?


Nota do Editor: Breno Rosostolato é professor de Psicologia da Faculdade Santa Marcelina.

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