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Crônicas
13/07/2012 - 09h06
A mania da doutorice
Humberto Pinho da Silva
 

Visitava a nossa casa, garotinha, filha de industrial, a fim de receber lições de desenho, que meu pai, que cursara Belas-Artes, administrava graciosamente.

A moça, bem nutrida de carnes, não era bonita nem feia, possuía, porém, dois belos olhos, cor de cinza, que refulgiam e fascinavam, de modo a muitos declararem-na formosa.

Estando meu pai, certa tarde, a falar com a mamã da menina, endireitou-se a conversa para lhe ensinar “corte”, já que trabalhara, como modista, na juventude.

Arregaçou a mulher as finíssimas sobranceiras; esbugalhou os olhos de espanto, e replicou abespinhada: - Sr. Pinho: não quero que minha filha trabalhe... mas que seja doutora!...

Doutora, para ela, era sinónimo de vida folgada; viver do trabalho dos outros.

Trago este episódio a propósito da crónica de João Adelino, pivô e jornalista da RTP, publicada in: “Dinheiro Vivo”, suplemento do “JN” de 14/04/12.

Conta o cronista: “Faltava poucos minutos para iniciar mais um debate eleitoral televisivo. Um assessor fez-me saber que um dos convidados ameaçava não entrar no estúdio, porque não o tratei com respeito. E perante o meu espanto, esclareceu que eu era o único jornalista que não tratava o político por “Senhor doutor”.

Como se sabe, em Portugal, ser “doutor” é imprescindível para quem deseje ser bem aceite. É praticamente título de nobreza, que abre portas à sociedade considerada elegante.

E prossegue o jornalista da RTP: “Não há convidado na televisão, que não seja apelidado, invariavelmente, de ’doutor’ ou ’engenheiro’”.

Recorro, agora, à memória, para narrar cena ocorrida com meu pai ao sair da missa dos “Congregados”:

Louvava-lhe conhecido advogado portuense as crónicas que publicava às sextas-feiras, taxando-as de excelentes; sua mulher, até perguntara-lhe que curso superior tinha o Pinho da Silva.

Como meu pai lhe dissera que não frequentara os bancos universitários, este respondeu: - “Continue... continue... porque para quem não é formado, tem muita habilidade!...”

Regressemos de novo à crónica de João Adelino: “É muito difícil explicar a um britânico, a um alemão, um espanhol ou qualquer estrangeiro, porque chamamos “doutor” e “engenheiro” a todos nossos políticos. Afinal fora das nossas fronteiras, respeito é chamar alguém simplesmente... Senhor.”

Por isso o Ministro da Economia de Portugal, notável professor universitário, no Canadá, ao desembarcar em Lisboa, disse aos jornalistas, que podiam tratá-lo apenas por “Álvaro”. Declaração que muitos nunca mais lhe perdoaram.

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