Após a descoberta de uma deficiência auditiva, surge uma série de dúvidas sobre saúde, mas também sobre o convívio social, já que a audição é uma forma de contato com o mundo. A linguagem é uma capacidade nata das pessoas e é usada na comunicação, responsável pelo desenvolvimento da espécie humana. Durante uma conversa, não é apenas o significado da palavra em si, nem somente sons isolados que importam e traduzem o que se planeja dizer. A entonação, o volume e a forma como as palavras são dispostas no discurso constituem o sentido da frase. Por isso, a audição é a chave para a construção das relações interpessoais e atividades sociais, onde a habilidade de perceber sons mínimos do cotidiano pode fazer a diferença. Perdas auditivas são irreversíveis. Dado o diagnóstico, é preciso iniciar tratamento o mais rápido possível para evitar piora no quadro. Daí a importância de ir ao otorrinolaringologista anualmente para uma avaliação audiológica. Mas, o que fazer quando não estamos mais aptos a identificar e perceber certas informações sonoras? O primeiro passo é investigar, juntamente com o médico, se o caso é para uso de aparelhos auditivos, que podem trazer de volta à vida da pessoa que sofreu perda auditiva os sons da natureza, a música, ou vozes de pessoas mais próximas. Um aparelho auditivo é indicado de acordo com o grau da perda auditiva, a anatomia da orelha, necessidades auditivas, gosto pessoal e estilo de vida. É possível escolher entre modelos sob medida (intra-aurais, usados dentro do ouvido) ou retroauriculares (uso externo, acima da orelha). O responsável pela seleção do dispositivo mais adequado junto ao usuário é o fonoaudiólogo. Assim como os óculos ou lentes de contato, um aparelho auditivo pode parecer estranho no começo. Após um breve período de ajuste, o usuário começa a se acostumar aos poucos. Não há pressa para a adaptação. Entretanto, em caso de dor, vale uma conversa com o profissional de saúde auditiva. Muitas pessoas não se adaptam ao aparelho auditivo e acabam deixando o equipamento guardado na gaveta por anos, até que sua perda auditiva piore ao ponto de atrapalhar a vida cotidiana. Entre as razões estão o medo de sofrer preconceito, pelo desconforto ou por atrapalhar na mobilidade. Por isso, a tecnologia em soluções auditivas vem evoluindo, possibilitando a existência de aparelhos auditivos tão pequenos que chegam a ser quase invisíveis e totalmente personalizados, para evitar qualquer dificuldade de adaptação. Há inclusive modelos resistentes à água. Quando o aparelho auditivo fica pronto, o fonoaudiólogo deve adaptá-lo ao ouvido do paciente, ou seja, fazer os devidos ajustes, de acordo com a perda auditiva e preferências. Além disso, o usuário deve receber todas as orientações sobre como controlar o volume (caso necessário), trocar pilhas e os cuidados básicos. Por fim, o especialista irá explicar como o aparelho reage em diferentes situações. Somente depois destas etapas o paciente pode levar o aparelho auditivo para casa. À princípio, deve-se usá-lo durante poucas horas por dia em ambientes conhecidos. Algumas situações podem parecer estranhas neste período. A melhor forma de explorar esta nova sensação é falar com as pessoas e assistir à televisão. A própria voz pode parecer esquisita ou soar muito forte, porque a pessoa se habituou a falar muito alto para se ouvir. Vale praticar uma fala mais suave. Uma dica: anotar as novas experiências vai ajudar o profissional a fazer o ajuste fino do aparelho auditivo. Após esta fase, o usuário de aparelho auditivo começa a recuperar, a cada dia, um pouco da sua qualidade de vida. É importante manter o uso do dispositivo e aprender aos poucos como aproveitar ao máximo o aparelho para desfrutar de todos os benefícios que ele pode oferecer. Dependendo da situação, ainda é possível aliar acessórios para potencializar as vantagens, como captar o som da TV diretamente ao aparelho auditivo e alternar o som para uma ligação ao celular apertando apenas um botão. O mais importante é que a pessoa volte à sua rotina normal, saindo com os amigos, praticando esportes, mantendo-se ativa, tanto socialmente quanto fisicamente. Nota do Editor: Lia Hoshii é fonoaudióloga da Phonak, formada e Mestre em Fonoaudiologia pela PUC-SP e especialista em Audiologia pela Santa Casa de São Paulo.
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