Os torneios de UFC, em que homens praticantes de diversas modalidades de artes marciais se digladiam em um circuito fechado sob o olhar de uma multidão hipnotizada tem cada vez mais chamado a atenção e penso que merece uma pequena reflexão. Por que tantas pessoas acham divertido ver dois homens se batendo até que um não aguente mais? Se somos civilizados, não deveríamos ter deixado de vez de gostar de espetáculos desse tipo? Eu já assisti a uma luta de Vitor Belfort e digo que não foi confortável vê-lo dando e recebendo golpes, sangrando e com marcas roxas no corpo. Fiquei com pena da mulher dele, que estava vendo aquela pancadaria de perto. Provavelmente, o fascínio que essas lutas provocam se deva a uma natural tendência violenta que hiberna em todo ser humano. Embora nos digamos racionais, o ser humano tem predisposição a impor sua vontade pela força e dominar quem é mais fraco. Talvez, seja por isso, que criamos as leis, a religião e regras sociais. Para domarmos o lado "fera" que, mesmo não gostando de admitir, nós temos. Quem nunca sentiu vontade de revidar com um soco ou com um tapa? As lutas de UFC também podem ser reminiscências das antigas lutas de gladiadores que extasiavam os cidadãos no Coliseu Romano. As pessoas amavam ver os gladiadores se matando e mutilando. Era uma verdadeira bestialidade. Hoje, queremos pensar que superamos aquela selvageria, mas, talvez, ela esteja apenas um pouco domesticada. Por acaso é uma atitude civilizada ficar assistindo a uma luta dessas, torcendo e gritando para que o lutador que gostamos acabe com o outro? A única diferença destes tempos para os de Roma é que os lutadores não morrem. Terminada a luta, eles se abraçam e nós os aplaudimos. Engraçado é que os lutadores dizem que o esporte não é violento e que são pacifistas. Acredito que os praticantes não sejam violentos. Pessoalmente, já conheci dois rapazes que participam desses torneios e os achei muito gentis. O próprio Belfort, que, no ringue, massacra os oponentes, fora dele, é um marido carinhoso e pai exemplar, cidadão completamente normal. Porém, no ringue, ele se transforma, vira um gladiador, pronto para massacrar, socando, fazendo o adversário sangrar e apanhando como um animal que vai ser sacrificado. Qual a razão de nós, que gostamos de nos declarar civilizados, sejamos tão fascinados por uma modalidade esportiva em que homens (a presença feminina já começa a se insinuar, ainda que timidamente) se disponham a ganhar a vida ferindo e se ferindo? É divertido, emocionante, ver homens musculosos de olho roxo e sangrando? Bem, depois da luta, a "fera" que habita em cada ser humano já está saciada e ele pode voltar a sua vida normal, exercendo seu papel de cidadão pacato e pacífico.
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