Dizem que não fica bem ir a velórios com roupas coloridas. Este problema eu sempre tenho que resolver. Não uso preto, nem cinza e muito menos azul marinho. Minhas roupas são de flores com matizes diversos. Não tenho um vestido sóbrio, o mais discreto chama a atenção a dez metros. Gosto de amarelo ouro, laranja, coral e vermelho vivo. Grená eu não uso porque não combina com minha cor de pele. Uma vez eu ganhei um agasalho marrom. Ao vesti-lo, eu me senti de uma cor só. Logo passei a vestimenta para outra pessoa. Outro dia eu pensei numa situação que poderá vir a acontecer a qualquer hora. No dia de minha morte, com que roupa eu iria cumprimentar São Pedro? Tenho um vestido preto que é chiquérrimo! A blusa é toda coberta com renda guipure. Até aqui tudo bem, mas a saia... Ela tem uma abertura no lado esquerdo, uma fenda que termina no meio de minha coxa. Esse vestido é provocante! Não ficaria bem eu usar esse traje para chegar lá. Ah! Tenho também um vestido lindo que é todo branco, de linho. Porém ele é quase um tomara que caia. Somente tem alçinhas. Não se adaptaria à ocasião. O céu não é um clube esportivo. O melhor, aliás, o mais correto, seria alguém às pressas comprar um vestido adequado ao momento fúnebre. Eu tenho a certeza que não iria gostar dessa roupa, mas nessa altura “Inês é morta” conforme escreveu Camões.
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