O fantasma do desemprego volta a assombrar os trabalhadores da indústria automobilística. Mesmo com os incentivos do governo - baixa de impostos e expansão do crédito ao consumidor - a General Motors pode anunciar, a qualquer instante, a demissão de 1500 a 2 mil trabalhadores de sua fábrica de São José dos Campos (SP). Seria um duro golpe para a economia nacional e, principalmente, um mau exemplo que acabaria seguido por outras empresas também em dificuldades. Poderia ser até a falência dos esforços que até agora se empreendeu para evitar a chegada ao nosso país da grande crise que varreu e ainda atormenta o chamado mundo desenvolvido. Até agora, no discurso oficial, o Brasil tem sido uma ilha de prosperidade, apesar das demissões pontuais no mercado de trabalho. A grande dúvida é sobre o real acerto da opção de incentivar o consumo interno, via crédito fácil, para garantir o funcionamento da indústria e evitar o desemprego. Até que ponto haverá lastro para essa indução de mercado e, principalmente, a disponibilidade de compradores. A maioria dos compradores potenciais já se endividou por dois, três, quatro e até seis anos, e só poderá fazer novos compromissos depois de saldar os atuais. Se, mesmo assim, as empresas continuarem tendo a necessidade de reduzir a produção e demitir, há que se encontrar outra forma de enfrentamento da crise, pois esta não funcionou ou, pelo menos, não foi suficiente para garantir a estabilidade até a passagem da tormenta. Caso comecem a ocorrer demissões em massa, não haverá quem segure as conseqüências e, finalmente, aquela “marolinha”, que os governantes previam ser a chegada da crise mundial ao Brasil, se revelará como um devastador “tsunami”. Os empresários de todos os setores que gozaram da desoneração fiscal têm de levar em consideração que o preço do benefício recebido é a manutenção dos empregos. Se não o conseguirem, têm o dever de demonstrar claramente a situação e procurar junto com as autoridades econômicas um meio de superação. Até porque, se seus negócios estiverem rumando para a insolvência, terão de contar com empréstimos e aporte de recursos vindos do cofre público, e não poderão bater às portas do governo sem que tenham dado um bom termo aos acordos anteriores. Não podemos ignorar a forma em que se deu solução à crise nos Estados Unidos. O rompante capitalismo de lá, para sobreviver, teve de beber o cálice amargo e recorrer ao Tesouro. O momento é de crise. Seria impatriótico ignorar. O governo tem a responsabilidade de encontrar fórmulas de enfrentamento. O empresariado precisa demonstrar boa vontade e disposição, e os trabalhadores (principalmente seus sindicatos) têm de defender a classe, mas sem intransigências nem xiitismo. O que está em jogo é a ponderabilidade da economia nacional e até a sua manutenção no invejável sexto lugar do mundo. A perda do equilíbrio seria ruim para todos nós, brasileiros... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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