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Opinião
10/08/2012 - 11h11
Exclusão cultural
Wanda Camargo
 

A tão incensada emersão da chamada classe C, decorrente da expansão de crédito e aumento da renda média, trouxe obviamente melhoria de vida para milhões de trabalhadores e seus familiares; e também para a economia: o aumento da demanda propicia a criação de mais empregos, pagamento de mais impostos. Por isso, mediante as ameaças ao crescimento do PIB, o governo tem optado por mecanismos de estímulo ao consumo.

No entanto, consumo é apenas uma etapa de um processo maior: muito mais importante do que ser consumidor é ser cidadão. Cidadania inclui o direito de morar, de ter dignidade, segurança e conforto; e também o de ser dono de seu destino, de garantir o futuro de seus filhos, de participar das decisões que influenciam sua vida, condições obtidas normalmente através do prolongamento dos estudos e melhor qualificação profissional.

O Ministério da Educação tem enfrentado o problema de acesso de estudantes ao ensino superior, mas não o de controlar sua evasão. A viabilização da entrada, através da expansão da rede de instituições universitárias, com o auxílio das políticas de ações afirmativas, raramente implica em correspondente democratização do acesso ao saber.

O estudante advindo das camadas populares sai do ensino médio para um mundo novo, pleno de novos códigos e repleto de desafios, e nesta experiência vivencia inúmeras rupturas. Afinal, a condição de estudante universitário foi, durante muitos anos, exercida apenas pelos filhos das classes mais privilegiadas, e tal transição não tem sido simples, podendo condenar o ingressante ao fracasso, em que pese o maior número de vagas disponíveis.

Aprender a aprender não é simples, e grande parte do abandono ocorre ao longo do primeiro ano do nível superior, precisamente porque a adequação às exigências universitárias, tanto em termos intelectuais, no aprendizado da linguagem mais próxima das normas cultas - ou pelo menos do jargão mais elitizado, mesmo se tratando de gírias - e da tradição cultural implícita, exige adaptação e flexibilidade.

Confrontar-se com novos códigos e rotinas pode trazer a insegurança e o sentimento de não pertencimento que afastam muitos alunos. O capital cultural insuficiente é frequentemente interpretado como limitação cognitiva ou intelectual, pois este jovem terá dificuldades até em leitura e sua interpretação, o que provoca atraso em muitas disciplinas, e não apenas nas relacionadas à língua portuguesa.

É preciso lembrar também que concentração não é virtude inata, ou seja, dificilmente existirá sem exercício da disposição natural, em diversas técnicas requeridas ao longo da aprendizagem, com bons professores e correta estrutura pedagógica; e considere-se a necessidade do aluno trabalhar em tempo integral, tendo menos tempo para estudo e envolvimento em projetos da própria escola. Exatamente nestas condições objetivas é que ocorrem os maiores erros de escolha de curso, pois as opções costumam ser determinadas mais pela facilidade de aprovação, ou possibilidade de custeio do que real interesse na área.

Ao lado de mais e melhores políticas públicas, instituições universitárias necessitam projetos culturais que preencham lacunas, valorizem possibilidades e promovam a verdadeira inclusão, concretizando a permanência deste novo alunado, para o bem de toda a sociedade.


Nota do Editor: Wanda Camargo é educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil.

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