O título pode não ser politicamente correto, mas não sei como ficaria a frase nesse novo dialeto. Também não é minha intenção menosprezar quem, por alguma razão, claudica nem quem tem apenas uma perna. Lembrei-me, imediatamente, do nosso campeão Lars Grael que perdeu uma num acidente e continua sendo mais produtivo do que a maioria dos nossos políticos que, via de regra, possuem quatro. Na verdade, foi o que me ocorreu ao ver, na televisão, alguns momentos da performance do Napoleão de hospício que comanda, hoje, os destinos da pobre pátria de Simão Bolívar. Não bastassem todas as dificuldades e sofrimentos enfrentados em vida pelo chamado Libertador, ainda tem que arcar, muitos anos após a morte, com o uso do seu nome para justificar as aventuras insanas dessa figura que acaba de nos visitar. Gostaria, se não fosse pedir demais, que um homônimo do herói andino, o Dr Simão Bacamarte, grande personagem do Alienista de Machado de Assis, pudesse examinar o caso. Mas isso já nos remete de vez para a ficção e não devemos esquecer que, infelizmente, estamos observando a realidade. Para fechar com chave de ouro esse já tradicional e periódico convescote de bichos-grilos em Porto Alegre, nada melhor do que um discurso delirante do Comandante Chávez. Nem o falecido Thomas Jefferson escapou da sua cascata de asneiras. Ao vê-lo pregando abertamente a luta armada como fórmula necessária e única para derrotar o perverso capitalismo que, diga-se de passagem, nem nós nem os venezuelanos tivemos ainda o gostinho de experimentar na sua plenitude, não pude deixar de pensar que sempre há quem esteja pior. Queixamo-nos de barriga cheia como, aliás, descobriu o IBGE para surpresa e decepção do supremo apedeuta, como costuma cruelmente chamá-lo Janer Cristaldo. Cruelmente porque o Presidente terá que ir ao dicionário para descobrir que isso não é um elogio. Temos reclamado tanto das incapacidades do Sr Luiz Inácio, da sua escassez de cultura, despreparo geral, da mistura de gafes e obviedades que emite com ar solene que, ao ver o Sr Chávez em cena, dá até remorso. Enquanto o núcleo do poder no Brasil cultiva o seu sonho autoritário com algum cuidado, procura não assustar muito e manter as aparências, o ferrabrás venezuelano não se contém na retórica barata, ameaça a torto e a direito e parece, verdadeiramente, um macaco numa loja de louças. É um triste consolo ver que os nossos vizinhos estão em pior situação do que nós. O mais preocupante, porém, é assistir ao modo reverente e cheio de considerações como é tratado aqui e em muitos outros lugares. Ao ter um dos seus hóspedes de luxo das FARC abduzido para prestar contas dos crimes na Colômbia, a figura se dá ao desplante de mostrar-se indignado, ofendido em nome da Nação, exigindo explicações em vez de dá-las. E o conjunto de países latino-americanos, Brasil inclusive, se faz de desentendido, prometendo apenas apaziguar os ânimos como se a impossibilidade de recorrer às vias oficiais para alcançar o criminoso não fosse, por si, um atestado de culpa do atual governo venezuelano. O objetivo é claro: inibir qualquer nova tentativa de capturar protegidos do senhor Chávez. Não devemos nos esquecer que esse senhor, quando se encontrava em um beco sem saída devido à greve no setor petrolífero, foi socorrido por nós com navios de combustível, a pedido de membros do atual governo já eleito, mas graças à aquiescência do vaselinado ex-presidente. Que diriam os nossos sindicalistas se um país estrangeiro enviasse qualquer produto vital quando estivessem em uma mobilização grevista desse porte? Cairia o mundo. Mas a pele dessa figura, que faz o papel de aríete da recidiva comunista nas Américas, tinha que ser salva e não havia tempo para aguardar a posse do nosso Lulinha. O senhor FHC, tão convincente quando faz palestras, prestou-se a esse papel e, como de tolo não tem nada, prestou-se conscientemente. E por que Chávez não merece ser amparado ou receber a consideração e o respeito normal que se deve ao chefe de Estado de um país amigo? Porque embora tenha sido eleito, a exemplo de outras figuras da história que carregavam consigo uma agenda oculta antidemocrática, tornou-se o estuprador das instituições venezuelanas. Enquanto aqui o governo petista vai tentando passar projetos de dominação político-ideológica com muita conversa fiada e iludindo os incautos, o senhor Chávez vai estrangulando sem qualquer constrangimento a já mutilada democracia do seu país. A agenda é parecida mas o nosso governo age como um batedor de carteiras ou, às vezes, como trombadinha. O bufão venezuelano rouba as liberdades civis à mão armada. Ainda não me esqueci que antes de ser Presidente, o sempre candidato Lula visitou a Venezuela e sentenciou: "O Chávez pensa como eu penso". Basta procurar os jornais da época. Na ocasião achei até uma declaração de modéstia do senhor Luiz Inácio pois, afinal de contas, embora ele próprio não seja nenhum portento, parece mais sensato e capaz de pensar alguma coisa. Como se vê, estamos condenados a nos contentar com muito pouco.
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