O governo fixou em 15,8%, fatiado em três parcelas anuais, o reajuste ao funcionalismo público federal, em greve nos últimos três meses. Professores e técnicos de órgãos públicos de pesquisa já aceitaram o acordo. Ainda faltam os servidores das polícias federal e rodoviária, agentes aduaneiros e fazendários. O Ministério do Planejamento, que acena com a devolução do dinheiro relativo ao ponto cortado dos grevistas mediante um acordo de reposição de horas, é inflexível quanto ao percentual e adverte que quem não fizer o acordo ficará sem reajuste em 2013. O grande drama do PT é o mesmo já vivido pelo antigo PMDB. Quando na oposição, criou uma série de embaraços aos governos de então e depois da chegada ao poder tem dificuldade para enfrentar a estrutura que ajudou a montar e da qual se beneficiou para emergir politicamente. O PT de hoje precisa ter claro que, diferentemente dos românticos tempos de sua construção e da abertura política, agora é sua a responsabilidade de manter o país em funcionamento. Que o direito de greve deve ser um instrumento de ampla defesa do trabalhador mas jamais uma arma para confronto intermináveis que podem conduzir ao caos. Com a economia estável e globalizada, governo, parlamentares e as próprias lideranças classistas têm de trabalhar honesta e sinceramente para evitar o confronto e a chegada à greve, só admissível como último recursos, quando falharem todas as tentativas de negociação. A legislação regulamentadora ainda pendente tem de ser votada e colocada em vigor com toda urgência. Os serviços públicos não podem continuar sofrendo paralisações como as atuais, onde alunos podem perder o ano letivo, viajantes têm o seu trajeto interrompido ou atrasado e mercadorias correm o risco de apodrecer nos navios por falta de liberação nos portos. O Governo e os servidores públicos em greve estão penalizando a sociedade, que nada tem em relação às reivindicações trabalhistas da classe. Não podemos nos esquecer de que o Brasil prepara dois grandes eventos internacionais - a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 - que trarão para nosso território grande número de equipes esportivas, turistas e jornalistas que transmitirão aqueles eventos para todo o planeta. No mundo inteiro, os países e empresas patrocinadoras investem bilhões de dólares nesse megaevento. Investe-se também no Brasil, elevadas somas para a realização dos dois certames que nos darão renda, prestígio e deixarão um bom legado ao desporto nacional. Não podemos correr o risco de, após todos os preparativos e investimentos, ver o país novamente mergulhado numa greve ou em operações-padrão que venham a tumultuar ou até impossibilitar a realização dos jogos. Isso seria um grande prejuízo tanto financeiro quanto à imagem do país. As greves de hoje não são mais ideológicas como as do passado. Seus líderes são intelectuais e ocupantes de elevados postos na República, que sabem muito bem da possibilidade que têm de parar o país. As partes precisam encontrar o ponto de equilíbrio. Os salários em discussão vêm de um orçamento público, que todos conhecem. Não adianta a reivindicação muito superior à possibilidade do cofre e nem a proposta patronal muito aquém daquele limite. O razoável precisa ser encontrado, pois o governo e o país não podem prescindir do trabalho prestado pelas classes e nem o funcionário pode abrir mão do seu emprego. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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