Desde a chegada do microgravador, que pode ser levado, ligado, no bolso, o mundo não é o mesmo. Aquele inofensivo aparelhinho, vindo para facilitar nossas vidas, desencadeou uma revolução que parece não ter fim. Sua facilidade de operação propiciou o flagrante de malfeitos e levou à cassação muito vereador, prefeito, deputado e outros políticos e a demissão funcionários errantes. Também ajudou a descobrir adultérios, falsificações e problemas empresariais. Mas era apenas o começo. Logo também chegaram as microcâmeras e os telefones celulares que gravam e filmam, cada dia mais eficientes e populares, que hoje tornam impossível a manutenção de certos segredos. Para completar o quadro, veio a internet que, com sua amplitude e a força das redes sociais, espalha tudo como um forte vento, muitas vezes um furação. O poder dos microfones e das câmeras é maior do que todos imaginamos. E a internet é capaz de provocar impactos arrasadores. Principalmente porque toda essa parafernália está nas mãos do povo que, cada dia mais, domina sua técnica de utilização e descobre novas aplicações. Os detentores de segredos e os negligentes têm de se cuidar para não serem flagrados, expostos e até retirados de suas confortáveis posições. O exemplo mais recente da força dessa tecnologia está na aluna de 13 anos, de Florianópolis, SC, que montou a página “Diário de Classe” no Facebook e, ali, enumerou os problemas de sua escola. Inicialmente foi advertida e quase reprimida pela direção, professores e funcionários, mas acabou aplaudida pela secretária de Educação, que a cumprimentou pela iniciativa e disse ter sua página ajudado a administração da escola. Sincera ou não, a conclusão da autoridade mostra a força do instrumento e sinaliza para a possibilidade de sua utilização em relação a todos os problemas vividos na comunidade. Ao mesmo tempo em que servem ao lazer, as redes têm o poder de encaminhar queixas e reclamações e, com isso, tornar os órgãos públicos e empresas prestadoras de serviços mais próximas de seus contribuintes e consumidores. No lugar de comparecer à sede, preencher papéis e enfrentar filas para noticiar o problema, basta o reclamante fazê-lo através do seu computador. As repartições e corporações mais avançadas já utilizam esse meio. Mas é preciso que todas entrem no circuito e, com isso, tornem-se mais acessíveis e possam conhecer e corrigir os problemas de sua prestação de serviços. Dentro do mesmo exemplo da menina catarinense, qualquer internauta tem a possibilidade de usar a rede para reclamar da falta de água, vazamento na rua, fornecimento de eletricidade, problemas de trânsito e questões que envolvam diretamente seus interesses e empresas (públicas ou particulares) de quem compram serviços. Também podem denunciar a quem de direito o mau atendimento e outros problemas de relacionamento com servidores públicos e de empresas com que se relacionam. A rede social não é apenas divertimento. Bem utilizada, pode facilitar em muito a vida da população. Quem a ignorar, correrá o risco de perder o bonde da história... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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