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Crônicas
07/02/2005 - 10h30
Os que não gostam de Carnaval
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

Há exatamente 65 anos, Dorival Caymmi compôs o histórico Samba de Minha Terra, cuja letra é categórica: Quem não gosta de samba / bom sujeito não é / é ruim da cabeça / ou doente do pé. Com isto dividiu a humanidade, ou, pelo menos, os brasileiros, em dois grupos: os que gostam e os que não gostam de samba. Que correspondem a dois outros grupos, os que gostam e os que não gostam de Carnaval - protagonistas de uma oposição tão ferrenha que provavelmente os transformará em protagonistas da Batalha Final.

Carnaval é coisa antiga. Festa romana (as Saturnais que, paradoxalmente ou propositadamente, homenageavam o melancólico deus Saturno), sobreviveu ao tempo, e chegou ao Brasil no século 18, trazido pelos portugueses. Era o entrudo, uma festa meio sem graça em que as pessoas atiravam farinha umas nas outras. O primeiro baile aconteceu em 1840, no Rio, no Hotel Itália. O nome do hotel é significativo: o Carnaval de Veneza, um luxuoso desfile de fantasias, era então o modelo para a festa. Mas no Rio surgiram os blocos de rua, depois os cordões, e, em 1935, o desfile das escolas de samba. Nascia assim o maior espetáculo da Terra, que, apesar das ameaças de violência, continua atraindo milhares de visitantes.

À medida que o Carnaval foi crescendo em importância foi também ganhando inimigos. As restrições eram, a princípio, de ordem moral. A Igreja, que inicialmente mostrara tolerância para com esse tipo de festa, ficou progressivamente alarmada com a permissividade que inevitavelmente surgia; São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II fizeram cerrada oposição ao Carnaval, mas, no século 15, o tolerante Papa Paulo II autorizou os desfiles de carros alegóricos e as batalhas de confete.

Hoje ninguém critica o aspecto "moral" da celebração carnavalesca. Os inimigos do Carnaval são de dois tipos. Em primeiro lugar, estão os amargos saudosistas, aqueles para quem o Carnaval está morrendo, vítima dos interesses e da indústria da comunicação de massa; aqueles que olham a tevê, balançam a cabeça e suspiram, desalentados. Para estes não há o que dizer, a não ser que mudança é inevitável.

O segundo tipo de inimigo é aquele que não gosta do barulho, que detesta a música e a batucada. Este se enquadra na definição de Caymmi. Não são necessariamente doentes do pé - problemas ortopédicos raramente são alegados como desculpa para fugir à festa; e também negarão que seu problema com o Carnaval seja psicológico. É gente que simplesmente prefere o silêncio, que vai se refugiar na Serra para estar longe da zoeira. Existem protestos inclusive contra os ensaios das escolas de samba.

Protestos à parte, o Carnaval chegou ao Brasil para ficar. Roberto Da Matta, autor de um célebre estudo sobre o tema, explica a razão. O Carnaval, diz ele, é a festa que possibilita a inversão de hierarquias, uma oportunidade única neste país tão hierarquizado, tão compartimentalizado. No Carnaval, o pobre vira príncipe, a empregada doméstica vira rainha; o equivalente brasileiro aos 15 minutos de glória aos quais, segundo Andy Warhol, todo o mundo tem direito. O barulho é chato? Sem dúvida. Mas o silêncio, meus amigos, é lúgubre. Viva o Carnaval, que a ninguém faz mal.

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