Nas condições naturais o percurso de um rio é Zen. As águas sempre escoam pelo caminho de menor resistência, formando meandros, inúmeras curvas caprichosas buscando solos mais friáveis e evitando aqueles mais sólidos, são precisos séculos para que rochas duras sejam pulverizadas. Aos humanos não é dado o privilégio de tanto tempo, não podemos em nossa vida pessoal e profissional contornar eternamente obstáculos ou dificuldades, temos que enfrentá-los, é o preço da maturidade e do sucesso. Uma das principais finalidades de uma formação superior é proporcionar estas condições, cabe à escola colocar o estudante frente a situações que ele não conhece, fora de sua zona de conforto e de convicção intuitiva. O enfrentamento dessas situações, o processo árduo e difícil do estudo, o encantamento com a descoberta do desconhecido, e até mesmo a frustração com a perda de algumas ilusões, constituem o caminho da formação verdadeira, que embasará a real intuição e criatividade. Bons mestres elucidam, encurtam caminhos, fazem perder o medo, transmitem experiência. Poder praticar em situações controladas, sob a supervisão de alguém confiável, que já trilhou antes os difíceis caminhos do conhecimento e tem o autêntico desejo de ensinar, suaviza o percurso, faz amadurecer. Um calouro traz muitas certezas à universidade, um formando leva dela muitas dúvidas. O que parece um paradoxo é a expressão do que deve ser a educação, um processo de maturação intelectual e pessoal que não ensine o que deve ser pensado, mas que desperte a curiosidade e desenvolva os mecanismos para pensar. A afirmação de Sócrates “só sei que nada sei” é a chave para o conhecimento, em contraponto à arrogância que nos cega, faz crer que sabemos tudo e nos faz fugir do que ignoramos. A palavra universidade vem do latim “universitas”: universalidade, totalidade. O sentido de universalidade é pertinente às múltiplas atividades da academia, que são muito mais amplas do que a indispensável formação de profissionais. Um curso superior não apenas prepara, mas liberta a mente para a vida; quem enfrenta com seriedade o desafio dos bancos escolares tem melhores condições de praticar suas atividades, mesmo aquelas que não pareçam a específica finalidade de seu curso. Principalmente para os que não puderam, desde cedo, conviver com a diversidade de conceitos e valores, ter contato com o saber formal, viajar, aprender idiomas, pois a escola promove inclusão cultural, aquisição de capital social, fator muitas vezes essencial para o bom exercício profissional. As pesquisas parecem indicar que pessoas que frequentam um curso superior ganham mais, demoram menos para encontrar um bom emprego; aqueles com estudo universitário têm, normalmente, o senso estético mais desenvolvido e menos comportamentos de risco, capacidade de integração social e efetiva participação na comunidade. Nem todas as profissões exigem um curso superior para serem exercidas, mas todas serão desempenhadas com mais alta qualidade se este for realizado. Nota do Editor: Wanda Camargo - educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil.
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