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Opinião
17/09/2012 - 07h01
O álcool de minha avó
Luciano Ornelas
 

Minha avó sempre recomendava após a picada de um inseto: “Passa álcool”. Tinha aprendido com a mãe dela, minha bisa. O vidro de álcool, hoje de plástico, ficava bem à mão e servia de remédio para um monte de coisas com suas mil e uma utilidades, como essa palha de aço da propaganda.

De repente vinha aquela coceira incômoda ou a vermelhidão no braço ou no pescoço - e dá-lhe álcool líquido. Ardia, mas resolvia. Minha avó conhecia bem as propriedades antibacterianas, antissépticas e desinfetantes do álcool - e passou a sabedoria à minha mãe, que repassou à minha irmã, que a repassará à filha, que vai explodir e passará para o outro mundo, segundo a Anvisa, que pretende proibir o produto em questão. Mas aí é outra história, como se verá.

O álcool canforado, então, era remédio pra tudo. O milagre da solução caseira se fazia ao jogar umas pedrinhas de cânfora no álcool bom, de 96 G/L (92.8 INPM) - não esse gel a 46 G/L, usado para higienizar as mãos em hospitais; tão fraquinho, mas tão fraquinho, que nem fogo acende.

Depois, o álcool forte servia para tudo: frieira, dedinho quebrado, galo na cabeça, dor de ouvido, resfriado, mau jeito nas costas. Qualquer coisa era tratada (e quase sempre curada) com álcool canforado. Tiro e queda.

Mas o álcool puro, como sabe toda boa dona de casa, é o número um entre os produtos de higiene e limpeza. Não há mancha, qualquer que seja a superfície, que resista ao álcool 96 G/L.

Conhecido pela Humanidade há mais de oito mil anos, o álcool é usado em bebidas como cerveja, vinho ou cachaça e na indústria de perfumaria. E, claro, como combustível - nesse caso, um bem para a natureza, uma fonte de energia renovável, ao contrário dos derivados de petróleo.

Evidente que o álcool, como bebida, é um perigo e vale o conselho: moderação. Quando consumido em alta dosagem e por longos períodos, causa a síndrome da dependência (conjunto de sintomas). Sabe-se como se morre de cirrose e outras graves doenças.

O alcoolismo nada cura, apenas apressa a caminhada nesta passagem pela Terra. Não é o caso nem devemos misturar usos e costumes entre o álcool caseiro e o das bebidas.

O fato é que a Anvisa investe mais uma vez e prega a abolição do álcool 96 G/L para o público. Alega que a garrafa de álcool pode explodir e causar sérios acidentes. Pessoas descuidadas essas que não sabem do alto poder de combustão do produto. Como o leitor sabe bem, notícias de acidentes com álcool são raríssimas: de minha bisa até os dias de hoje, nenhum acidente ocorreu em nosso quintal.

A Anvisa deveria ampliar os horizontes de seu interesse, caso queira mesmo proteger a saúde dos brasileiros: poderia começar por recomendar a retirada das portas dos armários de cima das cozinhas - uma topada de cabeça com a quina de uma porta é terrível. Mais ainda a trombada com a quina de uma tampa de mármore da pia no banheiro, uma das causas mais comuns de acidentes domésticos. Banheira, então, maior perigo. Cuidado: tapetes na casa provocam quedas. Então, que se proíbam os tapetes, ou as casas. Pelo menos o quesito “moradia” seria banido das promessas eleitorais.

Medida ainda mais acertada seria proibir a bebida alcoólica no País: o sistema nacional de saúde deixaria de gastar bilhões de reais no tratamento dos bêbados. E a sociedade poderia respirar aliviada ao saber que não será mais vítima desses assassinos que, embriagados, assumem um volante e matam sem dó nem piedade. Já que a Lei Seca não resolve, Anvisa neles.

O Conselho Nacional de Saúde recomendou a aprovação do Projeto de Lei nº 692/2007, que dispõe sobre restrições do acesso e venda do álcool líquido de uso doméstico. O projeto está na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados. Seus argumentos:

- em 2002, a Resolução RDC nº 46 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a substituição do álcool líquido acima de 46° de porcentagem de álcool em peso ou grau alcoólico (INPM) pela versão gel e deu prazo de seis meses para os fabricantes se adaptarem ao novo formato. No período em que o produto parou de ser comercializado, o número de acidentes com álcool caiu 60%. O número de internações hospitalares e a gravidade das queimaduras tiveram redução de 26%.

- a medida foi suspensa por meio de liminar da justiça e assim é necessária a regulamentação do tema na forma de lei. A norma contribuirá para a preservação da vida de milhares de pessoas, entre elas crianças, vítimas das graves queimaduras causadas pelo uso inadequado do álcool.

Mas o CNS não informa a base de seus cálculos: são números ridículos ou alarmantes comparados a outros acidentes domésticos da população brasileira? Sem isso, os números apresentados ficam sob suspeita. E suas intenções, mais ainda. Se o desejo é realmente o de preservar vidas, que se proíbam todos os itens perigosos à venda no varejo. Como facas ou desentupidores domésticos, desses à base de soda cáustica, produto altamente corrosivo, que pode produzir queimaduras, cicatrizes e cegueira. A soda cáustica está à venda livremente no comércio; em supermercados, junto a produtos de limpeza.

Enfim, o que estranha é o casuísmo da proposta nesse quadro nebuloso da burocracia petista.

E em vez do cheiro do álcool, a polêmica exala muito mais um cheiro de lobby.


Nota do Editor: Luciano Ornelas é jornalista.

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