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Opinião
09/02/2005 - 09h10
O caso Lubeca
Ipojuca Pontes - MSM
 
"Um povo corrompido não pode tolerar governo que não seja corruptor". - Marques de Marica

Não direi nada sobre o caso Lubeca. Em 1989, quando da disputa presidencial entre Lula e Collor de Melo, um funcionário da incorporadora Lubeca (empresa do grupo Moinho Paulista), o Sr Paulo Albanaze, pressionado por denúncias do candidato Ronaldo Caiado, veio a público e informou que havia passado propina de U$ 200 mil ao atual deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, à época vice-prefeito e secretário dos "Negócios Extraordinários" da prefeita Luíza Erundina. O dinheiro seria para a campanha eleitoral de Lula.

Em dezembro de 1990, o Jornal da Tarde publicou a transcrição de uma fita gravada em 28 de outubro de 1989 que revelava parte do diálogo travado entre o advogado Eduardo Pizarro Carnelós, assessor jurídico de Prefeitura de São Paulo e o Dr José Firmo Ferraz Filho, apontado como intermediário no agenciamento da propina entre Greenhalgh (o atual candidato de Lula à Presidência da Câmara Federal) e a empresa Lubeca, que pleiteava a aprovação da prefeitura de projeto urbanístico avaliado em U$ 600 milhões. Vale a pena ler de novo o quase monólogo do Dr Firmo:

Firmo: - "Teve aquele problema da grana e avaliou-se. Não pega a grana. Vamos pegar? Podemos pegar. Tem armação, não vamos pegar".

Diante do silêncio do interlocutor, o intermediário prossegue:

Firmo: - "O partido pediu grana. É ato de preposto, cara! E mais, o cara é vice-prefeito. Se ele pedir, os caras dão. O Luiz (Greenhalgh) estava por trás do projeto? Estava. Já tinha um homem do gabinete dele no projeto. Eu fui plantado na Lubeca. Fui plantado".

Carnelós: - "Por quem?"

Firmo: - "O Luiz (Greenhalgh). O Luiz. Pronto. Cara, você vai segurar?"

Quem gravou a relevante conversa foi o próprio assessor jurídico da prefeitura, o Dr Carnelós, temeroso de que mais tarde o caso de corrupção pudesse resvalar sobre ele, já que era o responsável na prefeitura pela análise do projeto da Lubeca. Para evitar qualquer reação ambígua, ou resistência do interlocutor, o Dr Firmo adota tom melífluo, no melhor estilo Nelson Rodrigues:

Firmo: - "Meu amor, a história é a seguinte: é a filosofia do lobo. Os caras dando isso... eles estão querendo o quê? Pagando o seguro tipo máfia. Não tem sacanagem, isso é a filosofia deles".

Durante o inquérito, que simplesmente não considerou a fita como prova (ninguém sabe por qual razão), fica evidente, num trecho da gravação, a mágoa que o "plantado" intermediário na Lubeca guarda ao deputado Greenhalgh que cometeu o "ato falho" de convocá-lo para depor nas investigações do escândalo, entre os anos de 1989/90, quando o certo seria esquecê-lo:

Firmo: - "O Zé Firmo (ele próprio) não podia aparecer... O Luiz (Greenhalgh) fez uma cagada? Fez. Atribuo isso exclusivamente a ato falho. Não perdôo o Luiz. Inabilidade, incompetência, seja lá o que nome for. Agora, não é por causa disso que a gente tem de atirar merda no ventilador".

De fato, transcorridos mais de quinze anos, o Dr José Firmo, intermediário do caso Lubeca, é um homem coerente: não quer jogar nada, muito menos merda no ventilador. Ao ser indagado pela "Folha" sobre os novos detalhes da conversa que envolvia a transação de U$ 600 milhões, foi evasivo: "Falei tudo por gozação. Você tem de entender que o clima naquela época era de muita tensão, de muita pressão". E como o repórter insistisse na contradição de que assunto tão sério, que causava tensão, fosse tratado na base da "gozação", o Dr Firmo encerrou a conversa: - "Foi brincadeira".

No mesmo tom, diante da nova gravação, todos os envolvidos no escândalo Lubeca, inclusive o candidato à Presidência da Câmara, o deputado Greenhalgh, disseram que "não se lembram" ou que o caso está oficialmente encerrado. De fato, ninguém se lembra de mais nada.

Menos, naturalmente, o Dr Dráusio Barreto, antigo Promotor de Justiça do caso, a encarar como grave o teor dos novos trechos da conversa gravada, que coincide plenamente com o que foi investigado em 1989: "Essa fita seria usada como prova em qualquer lugar do planeta que desse valor a uma investigação - afirma. O inquérito da Policia Civil caminhava com uma lógica muito adequada e já tinha bons indícios, mas fomos surpreendidos por uma decisão que nos obrigava a remeter o caso para a Polícia Federal. Estávamos no meio de um depoimento, ouvindo pessoas, quando agentes da Polícia Federal entraram na sala e retiraram o processo. Até hoje não entendi o que aconteceu. Era um crime de natureza comum (propina), não tinha nada a ver com a Política Federal".

A decisão partiu do hoje ministro aposentado Romildo Souza, ex-Corregedor-Geral da Justiça Eleitoral que, como os outros envolvidos, afirmou não se lembrar do caso Lubeca. "Faz muito tempo" - disse o ministro - "não me lembro direito".

Sabe-se que o segredo da longa vida é ter-se boa saúde e má memória. O escândalo Lubeca em nada difere do caso de Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário das finanças das prefeituras petistas de Campinas e São José dos Campos, que denunciou o envolvimento do compadre de Lula, o Sr Jorge Teixeira, em fraude de U$ 5,5 milhões, em 1993, para não falar no recente escândalo Waldomiro Diniz, o ex-assessor do ministro Zé Dirceu, flagrado na extorsão de propina do bicheiro Carlos Cachoeira - caso que levantou uma nuvem de poeira tóxica sobre a combalida confiabilidade do governo Lula.

No resumo da opereta, é muito provável que daqui a alguns meses todos esqueçamos do assunto desagradável e que o operoso deputado Greenhalgh venha logo a assumir a presidência da Câmara Federal (e, quem sabe, da própria República), reafirmando aquele velho preconceito dos europeus de que um dos obstáculos para o real desenvolvimento da América do Sul é o descaso do subcontinente para com os processos de regeneração moral.

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