O julgamento do mensalão segue, em Brasília, desfazendo as desconfianças de que tudo terminaria em “pizza”. Dez dos réus já estão condenados e os que ainda serão julgados não devem acalentar o sonho da absolvição. Essa postura da suprema corte traz um novo ânimo e segurança ao país. O efeito mais imediato do julgamento é sentido na radicalização das campanhas eleitorais, onde os candidatos do PT e demais partidos vinculados ao escândalo sofrem críticas e desgastes derivados da má companhia. Também resta, como residual, a constatação pública de que o chamado “caixa 2” vigora como forte e desagregador componente da economia nacional. Diferente da simplicidade que os advogados dos mensaleiros procuram lhe atribuir, o “caixa 2”, inaceitável em todos os aspectos, é um mal extremo à economia e à sociedade. Longe de conter apenas impostos sonegados (o que já seria um grave crime), o cofre paralelo é usado para o depósito de recursos produzidos por corrupção, esquemas fraudulentos em órgãos públicos e entidades, assaltos e roubos a bancos e estabelecimentos, tráfico de drogas, contrabando e inúmeras outras atividades criminosas. É o sustentáculo da violência exacerbada hoje presente em todo o país. Se não existisse um mercado paralelo, não haveria razões para se manter o caixa ilegal e nem ocorreriam os crimes que o sustentam e são cometidos para a sua manutenção. O Brasil, nosso jovem país, entendeu que precisa amadurecer e desenvolver processos capazes de fortalecer o país oficial e reduzir, até acabar, o país paralelo, indutor de tantos crimes e malfeitos. São salutares as medidas que o COAF (Conselho de Atividades Financeiras) vem adotando para ampliar o controle contra a lavagem de dinheiro. A nova lei, passada a duras penas no Congresso Nacional, amplia as condições de cercar importantes setores susceptíveis à aplicação de dinheiro sujo para que ali se torne limpo. Recorde-se que foi o COAF quem identificou os saques feitos no Banco Rural, fornecendo elementos para a formação do processo do mensalão. Mas precisamos mais do que a ação do COAF. A primeira das grandes dúvidas brasileiras está no financiamento das campanhas eleitorais. É preciso evitar que candidatos e partidos, em prejuízo do povo. recorram a recursos “frios” para aplicar em suas campanhas. Para adquirir seriedade, tudo deve ser contabilizado, auditado e, principalmente, revelar fontes legais dos recursos. Entidades, ONGs, clubes esportivos e assemelhados também precisam ter controle eficiente. As próprias empresas, que já recebem pesadas fiscalizações, precisam ser incentivadas a jamais recorrerem ao caixa paralelo, até porque isso é crime. Se os governos, valendo-se da informática hoje disponível e avançada e de programas de inclusão ao mundo oficial, conseguirem eliminar o tal “caixa 2”, com certeza, estará resolvendo uma série de problemas dele decorrentes. Poderá, inclusive, passar a tratar como bandidos aqueles que, ainda assim, continuarem insistindo em agir no mercado paralelo... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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